A cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), avalia que a movimentação no Congresso por uma anistia aos envolvidos no 8 de janeiro está diretamente ligada ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Para ela, a articulação é uma forma de tentar proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e, ao mesmo tempo, medir forças com as instituições, de olho nas eleições de 2026.
“Quando falamos do julgamento, também estamos falando, de alguma maneira, dos impactos para 2026. (…) É uma anistia que, claro, beneficia aqueles do 8 de janeiro, mas não são eles o alvo principal, é especialmente um ator político, que é Jair Bolsonaro”, afirma, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Para Santana, a movimentação de partidos como PP e União Brasil, que anunciaram a saída do governo Lula (PT) para apoiar a anistia, além da participação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passou a liderar a articulação da pauta em Brasília, está ligada ao cálculo eleitoral e ao esforço de constranger as instituições democráticas, como o STF. “Também tem pressões internas, numa direção de tentar pressionar e constranger as instituições para que haja qualquer tipo de mudança nesse cenário”, diz.
A cientista política pondera que a tentativa cumpre o papel de marcar posição, mas não deve ter força suficiente para prosperar no Congresso. “Pode ser que isso não fragilize o governo e nem tenha a pressão esperada para uma votação da anistia, até porque a Câmara sozinha não resolve essa equação, teria que ter também uma predisposição, principalmente, do presidente do Senado [Davi Alcolumbre (União Brasil-AP)], para levar adiante essa demanda pela anistia, e eu não o vejo com essa disposição até o momento”, avalia.
Julgamento histórico no STF
Santana destaca que a abertura do julgamento, nesta terça-feira (2), foi marcada por mensagens firmes do ministro do STF Alexandre de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, em resposta às pressões internas e externas. “Era esperado que tivéssemos um recado duro nas primeiras falas, (…) no sentido de se posicionarem enquanto instituições sobre o papel ao qual eles desempenham”, analisa.
Ela também chama atenção para o simbolismo da sessão desta quarta-feira (3), que escuta as últimas defesas dos réus, incluindo a de Bolsonaro. “Pela primeira vez na história política brasileira, temos um ex-presidente e, principalmente, militares sentados [no banco dos réus], diante da justiça brasileira, civil, para prestar contas”, destaca.
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