A comunidade cultural marcou presença ativa durante o final de semana na 7ª Conferência Municipal de Cultura, com uma construção coletiva da política cultural do município de Novo Hamburgo para os próximos dez anos.
Foram quatro eixos de trabalho, divididos em Diversidade Cultural e Cidadania, Economia da Cultura, Conhecimento e Formação, e Participação Social e Representatividade. A conferência teve início na sexta-feira (29) e encerrou no domingo (31), com a votação das proposições, no Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno.
Entre as diretrizes aprovadas, está uma reivindicação histórica da classe cultural, a alteração na composição do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) com a paridade no número de agentes e representantes do governo municipal, o que permitirá mais autonomia à sociedade civil nas decisões da pasta.

Moradora de Lomba Grande, bairro rural do município, e integrante da Associação Cultural Cantalomba, Maria Suziane Gutbier comenta que participar de uma conferência é um exercício de cidadania.
“Entender que as demandas da população precisam estar previstas no Plano Municipal de Cultura para serem depois executadas, nos desperta para a necessidade de organização social, seja numa associação de moradores, seja num ponto de cultura.”

As principais pautas defendidas pela Associação Cantalomba foram o fortalecimento da Política Nacional Cultura Viva no município e a destinação da Casa da Lomba para atividades culturais após a conclusão do restauro, prevista para dezembro. Segundo Gutbier, essa reivindicação reafirma uma decisão construída coletivamente pela comunidade lombagrandense ao longo dos últimos 20 anos.
Após a conferência, o Executivo municipal deve encaminhar para a Câmara de Vereadores as propostas elaboradas durante a conferência para aprovação do Plano Municipal de Cultura para a próxima década.
Ato em defesa da cultura

Antes da abertura da conferência, no final da tarde de sexta-feira (29), artistas independentes que integram o movimento “Cúpula pela Cultura”, realizaram uma manifestação. A concentração foi na Praça do Imigrante, seguida de uma caminhada até o Teatro Municipal Paschoal Carlos Magno.
Sem eventos culturais promovidos pelo município desde outubro de 2024, o setor cultural se mobilizou e ocupou a Praça do Imigrante, na área central de Novo Hamburgo.
“Não tivemos Carnaval nesse ano, não tivemos Natal, tivemos os cortes da orquestra. Essa é a nossa reação a todos os ataques à cultura”, disse a conselheira do CMPC, Marina Peretto. A produtora cultural comenta sobre o corte no orçamento destinado para a pasta da cultura no Plano Plurianual prevendo o orçamento municipal de 2026 a 2029. “O corte chegou a 46% no orçamento da cultura. A peça orçamentária que era de R$ 29 milhões vai para R$ 15 milhões em 2029, a partir do PPA deste ano.”

O grupo alega falta de diálogo da gestão com o setor cultural. “O secretário não aceitou o nosso convite para audiência pública, a gente também convidou ele para a plenária extraordinária, no dia 31 de março, que ele também declinou o convite. Ele não quer conversa com nós, então a gente está tendo que gritar na rua”, afirmou a produtora cultural e integrante da Cúpula Denise Azeredo.
Representando o canto coral no Conselho Municipal de Política Cultural, Cleuza Besckow Jardim alega que o setor está refém do decreto de calamidade. “A cultura foi encarada como festa, como desnecessária, como descartável.”
A conselheira referiu a legislação de autoria do atual prefeito Gustavo Finck, vereador na época, que proíbe a realização de eventos com recursos públicos enquanto o município estiver em estado de calamidade pública. A lei resultou no cancelamento de eventos como a Feira do Livro, Virada Cultural e o Natal dos Sinos, afetando o calendário cultural e a economia da cidade.
A reportagem do Brasil de Fato RS entrou em contato com a Secretaria de Cultura, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno. O espaço permanece aberto.
Encerramento do curso de Artes Visuais da Feevale

Estudantes do curso de artes visuais da Universidade Feevale também estiveram presentes no ato, manifestando-se contra o encerramento do curso. Em junho deste ano, a Instituição celebrou os 55 anos do curso de artes visuais, pioneiro da universidade.
“Recebemos por boatos de que o curso estaria fechando, fomos atrás da coordenação e da Reitoria, e recebemos a confirmação que o curso está encerrando as atividades”, contou a estudante Fernanda Nielsen.
Segundo ela, a justificativa para o encerramento do curso seria orçamentária. “Eles dizem que o curso não se paga, tem pouco aluno para manter, mas é uma instituição comunitária sem fins lucrativos, que deveria estar servindo à comunidade.”
Nota enviada pela universidade confirma que a partir do próximo processo seletivo, a Instituição não ofertará mais o curso de artes visuais e as licenciaturas em história e letras.
“A partir do próximo processo seletivo, a Universidade Feevale não ofertará mais o curso de artes visuais e as licenciaturas em história e letras. A decisão foi tomada após análise do cenário educacional, considerando a baixa procura nessas áreas, o que inviabiliza a continuidade da oferta. Os estudantes já matriculados terão assegurada a conclusão de sua formação, contando com o suporte integral da Universidade até a finalização do curso.”