Durante a alegação final de defesa do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier, o advogado responsável por representar o militar disse que os acusados pela tentativa de golpe estão indo de “embrulho” por conta do ex-presidente Jair Bolsonaro – também réu no julgamento que teve início nesta terça-feira (2) no Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu acho que todo mundo está indo de embrulho por conta do Bolsonaro. Se o Bolsonaro tivesse querido o evento do dia 8 de janeiro, com um simples assovio ele colocava lá [em Brasília] 200 mil pessoas, não duas mil”, alegou o advogado Demóstenes Torres.
Curiosamente, no começo da declaração, Demóstenes fez um aceno gentil ao ex-presidente e não poupou elogios. Em alusão a uma possível prisão de Bolsonaro, disse que, se necessário, “levaria cigarros aonde quer que ele esteja”. A sustentação oral durou uma hora e iniciou com cumprimentos gentis aos ministros do STF.
Quem é Demóstenes Torres?
Agora representando o ex-comandante da Marinha Almir Garnier na ação penal que julga os responsáveis pela tentativa de golpe, Demóstenes coleciona uma história peculiar no Congresso Nacional. Foi alçado à política pelo ex-governador de Goiás, Marconi Perillo e ocupou uma cadeira no Senado pelo mesmo estado entre 2003 e 2012, quando teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar.
O ex-senador protagonizou o escândalo envolvendo as ligações do bicheiro Carlos Cachoeira com agentes públicos e privados. Depois de encerrar a carreira política, Demóstenes se tornou procurador do Ministério Público de Goiás, onde ficou até se aposentar, em 2019. Após a aposentadoria, iniciou a carreira como advogado.
Defesa de Anderson Torres
A sessão foi finalizada com a alegação final da defesa do ex-ministro da Justiça na gestão Bolsonaro e ex-secretário da Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Na declaração, o advogado Eumar Roberto defendeu a autonomia e solidez das instituições, mas disse que os ministros não estão alheios às críticas.
“Defender a autonomia e a solidez das instituições é defender o próprio estado democrático de direito”, argumentou. O advogado sustentou a tese de que Torres ajudou a desmobilizar os acampamentos e não foi omisso às movimentações do 8 de janeiro. “Quando ele soube, a tentativa desesperada dele foi de conter. Isso não mostra espírito golpista”.
Próximos passos
O julgamento continua no STF nesta quarta-feira (3) com as manifestações das defesas de Augusto Heleno, general da reserva do Exército e do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Também será ouvida a alegação final de Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa.
As sessões seguem então na próxima terça-feira (9). Pela manhã, deve falar a defesa de Walter Braga Netto, vice-presidente na chapa de Bolsonaro de 2022. Já na parte da tarde, será lida as considerações do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal. A quarta-feira (10) e a sexta-feira (12) serão reservadas para os votos dos demais ministros que compõem a Primeira Turma da Suprema Corte.
Todos são acusados pela Procuradoria pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, com considerável prejuízo para a vítima, e deterioração de patrimônio tombado. As penas podem chegar a cerca de 40 anos de prisão.