O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, questionou nesta quarta-feira (3) o método usado pelos EUA para combater o tráfico de drogas no sul do Caribe. O colombiano compartilhou o vídeo divulgado pela Casa Branca com um ataque a uma lancha e disse que, se provada a veracidade da publicação, isso seria um “assassinato em qualquer parte do mundo”.
“Há décadas capturamos civis transportando drogas sem matá-los. Quem transporta drogas não são os grandes traficantes, mas sim os jovens muito pobres do Caribe e do Pacífico”, indicou o mandatário.
O vídeo mostra uma lancha navegando sem indicação de local ou horário. Depois de alguns segundos, a embarcação explode. Segundo o presidente dos EUA, Donald Trump, o barco carregava drogas e 11 pessoas morreram na operação. O ataque faz parte de uma mobilização militar dos EUA no sul do Caribe que envolve navios de guerra e um submarino para combater o tráfico de drogas.
Em uma nova publicação, Petro divulgou um vídeo mostrando “como se faz uma intervenção marítima”. No conteúdo, uma lancha é interceptada por um avião e um barco militar, que não precisou disparar para interferir no carregamento de drogas.
“É assim que se faz uma interdição marítima. Aqui, com a ajuda da Força Aérea Colombiana. Bombardear o barco viola o princípio universal da proporcionalidade da força e resulta em assassinato”, disse Petro na postagem.
Em declaração à imprensa, Trump não deu detalhes sobre essa operação e se limitou a dizer que as tropas estadunidenses que estão no sul do Caribe abateram um barco. O ataque no sul do mar do Caribe foi confirmado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que disse, sem apresentar provas, que o barco estava sendo operado por uma organização “narcoterrorista”, e que o barco havia saído da Venezuela.
Trump vinculou o barco com a narrativa que vem tentando imputar sobre a Venezuela de que o país caribenho é responsável pela saída de drogas que vão para os EUA. O republicano disse que 11 pessoas morreram na operação e que a lancha navegava em águas internacionais. Ele ainda disse que a embarcação pertencia ao grupo criminoso venezuelano Trem de Aragua. Não foram apresentadas provas para nenhuma dessas acusações.
A Venezuela também já havia respondido ao anúncio dos EUA e disse que o vídeo foi feito por Inteligência Artificial.
A tensão aumentou na região nas últimas semanas, depois que os Estados Unidos subiram o tom contra o governo Maduro. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usariam “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
Segundo o governo venezuelano, os interesses dos EUA nesta região estão relacionados diretamente aos recursos naturais venezuelanos.
“Um é que eles vêm pelas riquezas da Venezuela. Eles vêm pelo petróleo, pelas maiores reservas de petróleo do mundo. A quarta maior reserva de gás, eles vêm pelas reservas naturais, pelo nosso solo”, afirmou.
O argumento principal usado pelo governo venezuelano neste momento é o de que há duas alas internas no governo Trump, uma mais pragmática e que está mais aberta a negociações e outra, liderada por Marco Rubio, que tem o objetivo de promover uma ofensiva contra os governos de esquerda da América Latina. Maduro disse que o grupo do secretário de Estado acaba prejudicando a Casa Branca e que Trump deve estar “atento” aos interesses da extrema direita latino-americana de Miami.
“Quando foi que enviaram um submarino nuclear para combater as drogas? Em lugar nenhum do planeta. Inventam uma história, uma lenda em que ninguém acredita. A juventude dos Estados Unidos não acredita nas mentiras do chefe da Casa Branca, Marco Rubio, a máfia de Miami que quer sujar as mãos do presidente Donald Trump com sangue”, disse.