O governo da Venezuela disse que o vídeo com ataque a um barco no sul do Caribe divulgado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi feito por Inteligência Artificial. Em publicação nas redes sociais, o vice-presidente de Comunicação, Freddy Ñáñez, disse na noite deste terça-feira (2) ter colocado o vídeo em uma plataforma de IA e que a resposta foi que o conteúdo “muito provavelmente” foi produzido.
“O vídeo mostra um navio sendo atacado e depois explodindo de uma forma que parece uma animação simplificada, quase caricatural, em vez de uma representação realista de uma explosão”, diz o texto compartilhado por Ñáñez.
A declaração de Caracas vem em resposta ao vídeo compartilhado por Trump nas redes sociais. No conteúdo, uma lancha aparece navegando e, minutos depois, explode ao ser atacada por uma bomba estadunidense. A publicação, no entanto, não tem detalhes como localização, horário, identificação da embarcação e muito menos quem fez o disparo da bomba.
Em declaração à imprensa, Trump se limitou a dizer que as tropas estadunidenses que estão no sul do Caribe abateram um barco. Segundo o presidente dos Estados Unidos, a embarcação carregava drogas. No vídeo, também não é possível ver qualquer carregamento transportado pela lancha. O ataque no sul do mar do Caribe foi confirmado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, que disse, sem apresentar provas, que o barco estava sendo operado por uma organização “narcoterrorista”, e que o barco havia saído da Venezuela.
Nenhum dos dois divulgou detalhes da operação. Trump vinculou o barco com a narrativa que vem tentando imputar sobre a Venezuela de que o país caribenho é responsável pela saída de drogas que vão para os EUA. O republicano disse que 11 pessoas morreram na operação e que a lancha navegava em águas internacionais. Ele ainda disse que a lancha era do grupo criminoso venezuelano Trem de Aragua. Não foram apresentadas provas para nenhuma dessas acusações.
“Nos últimos minutos abatemos um barco que transportava drogas. Havia muita droga naquele barco. Temos muita droga entrando em nosso país, há muito tempo. Elas saem da Venezuela e estão saindo em grande quantidade”, disse Trump.
O republicano atribuiu a operação ao chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e disse que o grupo tem feito esforços no combate ao tráfico e também ações contra o programa nuclear iraniano.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse nesta terça que o secretário de Estado, Marco Rubio, mente em suas declarações. O mandatário voltou a usar o argumento que tem sido apresentado por Caracas de que Rubio prejudica a própria gestão de Trump.
“Quando foi que enviaram um submarino nuclear para combater as drogas? Em lugar nenhum do planeta. Inventam uma história, uma lenda em que ninguém acredita. A juventude dos Estados Unidos não acredita nas mentiras do chefe da Casa Branca, Marco Rubio, a máfia de Miami que quer sujar as mãos do presidente Donald Trump com sangue”, disse.
Em discurso, o presidente também falou sobre os interesses dos EUA nesta região. Para o chavista, a Casa Branca promove esses ataques com o objetivo de se apropriar dos recursos naturais venezuelanos.
“Um é que eles vêm pelas riquezas da Venezuela. Eles vêm pelo petróleo, pelas maiores reservas de petróleo do mundo. A quarta maior reserva de gás, eles vêm pelas reservas naturais, pelo nosso solo”, afirmou.
Maduro também já havia reforçado que se os EUA promovessem uma ofensiva militar contra os venezuelanos, o país passaria para a luta armada.
Ameaça dos EUA
A tensão aumentou na região nas últimas semanas, depois que os Estados Unidos subiram o tom contra o governo Maduro. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usariam “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
Depois disso, agências de notícias internacionais começaram a noticiar o envio de navios militares para a região. Ao todo, seriam três embarcações com 4 mil soldados estadunidenses que foram deslocados ao sul do Caribe para combater o tráfico de drogas. Na terça-feira (26), o cruzador de mísseis guiados USS Lake Erie e o submarino USS Newport News teriam sido incorporados à missão, além de uma nova tropa francesa, segundo a CNN.
Em resposta, o governo venezuelano anunciou que deslocaria uma tropa para o sul do Caribe e 15 mil soldados para a fronteira com a Colômbia. O presidente Nicolás Maduro promoveu, ainda, um alistamento em massa de voluntários à Milícia Nacional Bolivariana no último final de semana.
A milícia bolivariana é uma organização formada em 2009 composta por civis e militares aposentados em seus quadros. Eles recebem treinamento para defesa pessoal e fiscalização do território em diferentes contextos — urbano e rural. O grupo passou a compor uma das cinco Forças Armadas da Venezuela, que tem uma estrutura diferente do Brasil.
O governo reforçou a importância desse alistamento para a defesa da soberania nacional e realizou uma nova rodada de inscrições nesta sexta-feira (29) e sábado (30).
