Um novo estudo da Aliança Global por Alternativas à Incineração (GAIA) aponta que a incineração de lixo agrava a crise climática e pode trazer impactos sociais, econômicos e de saúde para a população. A pesquisa comparou estratégias de gestão de resíduos em cidades como Barueri (Brasil), Lagos (Nigéria) e Quezon City (Filipinas), projetando o aumento da temperatura até 2060 conforme as políticas adotadas. Na cidade brasileira, uma incineradora tem funcionamento previsto para 2027.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o porta-voz da Aliança Resíduo Zero Brasil, Rafael Eudes, destacou que o debate é fundamental diante da proximidade da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. Conforme o estudo, se soluções de resíduo zero, como a reciclagem e a compostagem, forem implementadas, é possível reduzir em até 40% as emissões de gases de efeito estufa no município de Barueri. “Essa diferença equivale a aproximadamente tirar 650 mil carros das ruas por um ano”, comparou.
Segundo ele, a possível instalação de uma usina de incineração em Barueri ameaça tanto o meio ambiente quanto a população. “A sociedade civil presente no território desenvolveu ações populares, uma ação civil pública, indicando os possíveis impactos que a incineração pode ter dentro daquela região. Inclusive, temos nessas ações alegações da sociedade que existem ilegalidades em termos do licenciamento dessa planta”, explicou.
Eudes também rebateu o argumento de que a incineração poderia gerar energia elétrica. “O que esse estudo mostra é que essa solução é a mais cara. Vai ficar mais caro para os gestores públicos e vai ficar mais caro para a sociedade, por ser a fonte de energia mais cara. Então vamos pagar uma conta de luz mais cara também. Além disso, também tem um risco muito grande em termos da emissão de gases poluentes”, disse.
Ele defendeu que o Brasil siga o que está previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). “As soluções de resíduos zeros são melhores para o clima, são melhores para a saúde, são melhores para a sociedade e são mais baratas. É por esse cenário que acreditamos que temos que seguir e evitar que sejam implementadas tecnologias como essa da incineração”, destacou.
O porta-voz reforçou a importância da mobilização popular. “A população pode cobrar o Ministério Público, os vereadores locais para ter maiores esclarecimentos e também entender quais são esses possíveis impactos que essa tecnologia pode ter. Sabemos que se queimarmos 100% dos resíduos presentes no município, vamos tirar a renda dos catadores daquele território”, exemplificou.
O estudo completo pode ser acessado em no-burn.org. No Brasil, organizações como o Instituto Pólis e o SOS Barueri também acompanham os impactos e debatem alternativas sustentáveis.
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