O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou nesta quarta-feira (24) que os países atualizem as suas metas de redução nas emissões de gases de efeito estufa antes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O brasileiro disse que, sem essas diretrizes, o mundo “caminha no escuro” para a destruição.
A fala de Lula foi feita na sessão de abertura do evento sobre clima para os chefes de Estado e de governo, que aconteceu em paralelo à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O documento chamado de Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) foi assinado em meio ao Acordo de Paris, em 2015, e determina os compromissos de cada país para as reduções nas emissões. Esse texto deveria ser atualizado pelos países até 2025.
Segundo Lula, o sucesso da COP30 depende da apresentação desses documentos para que os países possam guiar os trabalhos e articular soluções para o enfrentamento a crise climática.
“Em um mundo onde graves violações se tornaram corriqueiras, deixar de apresentar uma NDC parece um mal menor. Mas sem o conjunto das NDCs, o planeta caminha no escuro. Só com o quadro completo saberemos para onde e a que ritmo estamos indo. Há países aqui que estão cumprindo seu dever. Mas há outros que não fizeram. Faço um apelo para quem não apresentou a NDC. O sucesso da COP30 depende de vocês. A Amazônia será o palco de um momento decisivo do multilateralismo”, afirmou.
O brasileiro é um dos principais articuladores das medidas para a transição energética limpa no mundo. Durante seu discurso, ele destacou que os países ricos precisam colaborar mais por serem responsáveis, historicamente, pelas maiores emissões. Além disso, Lula cobrou que essas nações ampliem o acesso às novas tecnologias.
“A transição energética abre as portas para uma transformação produtiva e tecnológica equiparável à Revolução Industrial. As contribuições são o mapa do caminho que guia cada país. Não são meros números, são uma oportunidade para repensar modelos e reorientar políticas de investimentos rumo ao novo paradigma econômico. Para que isso ocorra em escala global, nações ricas precisam antecipar suas metas de neutralidade climática e ampliar o acesso a tecnologias para países em desenvolvimento”, disse.
A NDC do Brasil foi atualizada no ano passado com o compromisso de reduzir as emissões líquidas entre 59% e 67% em relação aos níveis de 2005. Ao menos 40 países ainda não haviam atualizado o NDC até junho de 2025.
Lula reforçou que esse é o momento de questionar se o mundo chegará a Belém com a “lição de casa feita”. De acordo com o presidente, essa não é uma sugestão, mas é uma obrigação dos países.
“Menos de 50 dias separam essa reunião da COP30. O Acordo de Paris deu a liberdade para os países formularem metas de redução de emissões condizentes com suas realidades e capacidades. Mas a apresentação de contribuições não é uma opção, como deixou claro a Corte Internacional de Justiça. É uma obrigação”, questionou.
A reunião acontece no mesmo momento em que líderes de extrema direita questionam a crise climática na Assembleia da ONU. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usou o seu espaço para afirmar que as mudanças climáticas são uma “mentira” e que a pegada de carbono é uma “farsa inventada por pessoas mal-intencionadas”.
Relatórios feitos pela própria ONU, no entanto, provam o aumento acelerado da temperatura global que levam a eventos climáticos extremos, o derretimento de gelo e o aumento do nível do mar. Estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM), apresentam provas científicas dos impactos da crise climática.
Lula disse que o negacionismo é mais uma barreira no combate à crise climática, mas não pode se tornar um impeditivo para o compromisso dos países. Ele também afirmou que é preciso mobilização coletiva para derrotar essas ideias.
“O negacionismo que enfrentamos não é só climático, mas multilateral. Ninguém está imune às mudanças climáticas. Muros nas fronteiras não vão conter as secas. O risco do unilateralismo é a reação em cadeia que ele provoca. Cada compromisso rompido é um convite para as novas atitudes isoladas. O resultado é um ciclo vicioso de desconfiança. Precisamos resgatar a convicção na mobilização coletiva”, afirmou.
O brasileiro encerrou seu discurso afirmando que a COP30 vai mostrar que o desenvolvimento sustentável é um conceito necessário para colocar em prática e que não há como preservar a natureza sem cuidar das pessoas. Lula reforçou que é preciso atuação contundente dos governos para que as pessoas continuem acreditando em saídas políticas.
“A COP na Amazônia vai mostrar que não há como preservar a natureza sem cuidas das pessoas. Precisamos de diálogo franco e direto à altura que as nossas sociedades nos confiaram. Temos a chance de fazer justiça. Precisamos mostrar se nós, líderes ou chefes de Estado, vamos tomar decisão. Se não, a sociedade vai parar de acreditar nos seus líderes e vamos ajudar no descrédito da política. Todos nós perderemos porque o negacionismo vai vencer”, concluiu.