A iniciativa Palcos Amefricanos RS chega a Porto Alegre (RS) e região Metropolitana para as últimas apresentações dos espetáculos Sopaporiki e Girafa da Cerquinha. Até sexta-feira (4), o projeto passará por escolas da rede pública de ensino de São Leopoldo, Canoas, Guaíba e da Capital.
Com performance do poeta e músico Richard Serraria e direção teatral de Leandro Silva, a circulação gratuita dos dois espetáculos cênico-musicais teve início em 5 de junho e já passou por Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Pelotas, Rio Grande, São José do Norte, Caxias, Canela e Gramado.

O projeto aborda elementos da cultura negro-gaúcha, como o tambor de sopapo, com apresentações teatrais e oficinas formativas, que contemplaram os locais atingidos pela cheia histórica de 2024 no estado. Em cada cidade, está sendo feito um registro sistemático do conjunto da experiência que alimentará um blog de processo e, posteriormente, a produção de um documentário. As atividades e estratégias de divulgação contam com medidas de acessibilidade.
Intitulada “Tamboralituras”, a oficina vai oferecer atividades lúdicas para crianças e adultos. O sopapo, tambor tradicional negro-gaúcho, está na centralidade das obras em circulação, valorizando o patrimônio cultural e reconhecendo a contribuição do povo negro para a construção da identidade do Rio Grande do Sul.
Serraria destaca a relevância da expressão artística para além da música. “A importância desse projeto reside no fato dele ser uma ação tambor centrada onde o sopapo, mais que um instrumento musical, mostra sua dimensão política atestando a presença negra na construção econômica do estado em sua história, visível hoje na cultura negro-gaúcha.”
Sopapo como instrumento político
Sopaporiki é um espetáculo musical tambor centrado, criado e performado por Richard Serraria com direção cênica de Leandro Silva, em que a presença do sopapo – instrumento musical e também artefato político ligado ao povo negro do Rio Grande do Sul – costura a narrativa, exigindo adequação do performer e poeta às diferentes linguagens artísticas mobilizadas para a materialização da obra.
Com um conteúdo essencialmente amefricano, afirma a potência das epistemologias negras no Brasil atual, num acúmulo de pesquisas e atuações em torno do tambor de sopapo e a contribuição negra na literatura e na música, ou ainda junto ao encontro com a poesia dos orikis da matriz iorubá da África. A peça conta e canta a trajetória dos 12 orixás do Batuque de Nação Oyó Idjexá e o surgimento da cosmogonia iorubá no Rio Grande do Sul e na bacia do Prata.
Girafa da Cerquinha é a releitura de uma história da mestra griô Sirley Amaro, que conta a fábula da girafa, animal que teria vindo da África num navio e que escolhe ir para Pelotas (RS) no bairro da Cerquinha, cidade em que havia um carnaval caricato e cômico com nomes de bichos.
Uma recontação de história infantil que traz o tambor sopapo tocado de maneira continuada envolvendo a criançada numa vivência lúdica com as batidas características do grande tambor negro gaúcho (Ijexá, Adarun, Aré do Bará, Congadas RS, Samba Cabobu, Candombe uruguaio gaúcho e Milongón). Cada batida negra sonoriza um nome de bicho, personagens da narrativa.
“Rodas de Tamboralitura” são atividades formativas no formato de vivências lúdicas relacionadas a cada uma das peças teatrais – Sopaporiki e Girafa da Cerquinha – e seus respectivos públicos. As oficinas buscam promover um espaço de contato com o tambor no qual os participantes são convidados a passar a textualidade poética dos espetáculos para o plano da oralidade e do corpo.
Trajetória premiada

Richard Serraria, graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), é mestre e doutor desde 2017 em Literatura Brasileira pela mesma universidade, ex-professor universitário e agitador cultural na cena de Porto Alegre (RS). É fundador e diretor da empresa cultural Tarrafa.
É detentor de uma variedade de prêmios no meio musical, como oito Açorianos de Música e uma premiação no Festival de Música de Porto Alegre. Em 2009, Serraria dividiu o prêmio de melhor letrista do Prêmio Uirapuru de Música Brasileira com Tom Zé. É autor do premiado livro Sopaporiki (2020) e do espetáculo homônimo, integrante da Programação da 29ª Edição do Festival Internacional Porto Alegre em Cena, em 2023. Vencedor do Kikito em Gramado 2021 pela trilha sonora do filme Cavalo de Santo. Criador da contação de histórias Girafa da Cerquinha – Cênico Musical, baseada em obra autoral da Mestra Griô Sirley Amaro.
Programação
Palcos Amefricanos RS – Circulação Sopaporiki e Girafa da Cerquinha
Até 4 de julho
Entrada franca
1 de julho, terça-feira / São Leopoldo
Girafa da Cerquinha – às 10h30min
Instituto Estadual Professor Pedro Schneider / R. São Caetano, 616 – Centro, São Leopoldo
Sopaporiki – às 19h30min
Escola Estadual de Ensino Médio Polisinos / R. Dom Pedro I, 462 – Bairro Rio Branco – São Leopoldo
2 de julho, quarta-feira/ Canoas
Girafa da Cerquinha, às 15h30min
Instituto Estadual de Educação Dr. Carlos Chagas / Rua Santa Cruz, s/n, Bairro Niterói – Canoas
Sopaporiki, às 19h30min
Instituto Estadual de Educação Dr. Carlos Chagas / Rua Santa Cruz, s/n, Bairro Niterói – Canoas
3 de julho, quinta-feira / Guaíba
Girafa da Cerquinha, às 15h
Colégio Estadual Augusto Meyer / Rua Pantaleão Telles, 431 – Guaíba
Sopaporiki, às 19h30min
Colégio Estadual Augusto Meyer / Rua Pantaleão Telles, 431 – Guaíba
4 de julho, sexta-feira / Porto Alegre
Girafa da Cerquinha, às 10h
EMEF José Loureiro da Silva – Av. Capivari 1999 – Porto Alegre
Sopaporiki, às 19h
Biblioteca do Instituto de Psicologia, Serviço Social, Saúde e Comunicação Humana – IPSSCH/Ufrgs
R. Ramiro Barcelos, 2600 – Porto Alegre
