Diante das recentes ameaças do governo de Donald Trump de impor tarifas sobre produtos mexicanos, a presidente Claudia Sheinbaum afirmou, nesta segunda-feira (14), que seu governo não está disposto a ceder quando o assunto é soberania.
As declarações foram feitas durante a La Mañanera del Pueblo, sua coletiva diária, após ela ser questionada sobre uma carta enviada no sábado (12) pela Casa Branca a diversos países — entre eles o México — na qual Trump ameaça aplicar tarifas de 30%, a partir de 1º de agosto, acusando o governo mexicano de “não fazer o suficiente para combater o tráfico de fentanil e a migração irregular”.
“Todas as nações estão recebendo cartas do mandatário estadunidense; o México é um dos países”, respondeu Sheinbaum, garantindo que o governo manterá uma postura firme e prudente. “Continuaremos agindo com serenidade”, disse, destacando, contudo, que “a soberania do país não é negociável”.
Embora tenha sido o próprio Trump quem, em 2020, assinou junto com México e Canadá um tratado de livre comércio com seus vizinhos (T-MEC), não é a primeira vez que seu governo lança ameaças contra parceiros comerciais. Contrariando os acordos firmados, desde seu retorno à presidência, em janeiro deste ano, o ex-presidente já usou esse tipo de retórica em duas ocasiões anteriores, sem jamais colocá-las em prática.
Essas ameaças têm sido usadas pela Casa Branca como ferramenta de pressão nas negociações. O México é o principal parceiro comercial dos Estados Unidos, com um intercâmbio que supera US$ 800 bilhões por ano. Aproximadamente 80% das exportações mexicanas têm como destino os EUA, tornando o país especialmente vulnerável a qualquer medida protecionista.
No entanto, a imposição de tarifas elevadas não afeta apenas o México — com possíveis quedas em suas exportações —, mas também os EUA, onde isso poderia gerar um aumento significativo da inflação.
Durante sua participação, Sheinbaum reafirmou que o México está ativamente empenhado em buscar uma solução diplomática.
“É muito importante, porque não é retórica quando dizemos: coordenação, colaboração, mas não subordinação. Não é só discurso, é isso que falamos nas mesas de trabalho com o governo dos Estados Unidos e suas diversas instituições. É nossa posição pública, é nossa posição privada”, garantiu.
Além da retórica contundente de Trump, Sheinbaum afirmou que os governos do México e dos Estados Unidos estão avançando em um acordo “praticamente concluído”, coordenado pelo Departamento de Estado, na área de segurança.
Ainda assim, a presidente destacou que, desde fevereiro, ambos os governos mantêm uma mesa de negociação sobre segurança e migração, e que o governo mexicano implementou uma estratégia que tem funcionado, rendendo ótimos resultados. “Foram acertados esquemas de trabalho e negociação até o dia primeiro de agosto”, explicou. “Sempre mantendo a calma, trabalhamos com base no diálogo, na cooperação e na dignidade nacional.”
A mandatária enfatizou ainda que o acordo com as autoridades estadunidenses no que diz respeito à segurança está praticamente pronto, mas esclareceu que de maneira alguma prevê a entrada de tropas estrangeiras no território mexicano.
“Respeito total à soberania”, reforçou. “O que se estabelece são esquemas de coordenação, por exemplo, na troca de informações de inteligência que eles têm lá e nós temos aqui, e como essa informação é compartilhada para as operações deles no território deles e as nossas no nosso.”
E completou: “É muito importante, porque não é retórica quando dizemos: coordenação, colaboração, mas não subordinação. Não são apenas palavras, é isso que falamos nas mesas de trabalho com o governo dos Estados Unidos e suas várias instituições.”
Sheinbaum foi enfática ao afirmar que o México está cumprindo seu papel na luta contra o tráfico de drogas, e que agora cabe aos Estados Unidos assumir o seu. “O país está fazendo a sua parte nessa questão e os Estados Unidos devem fazer a deles”, resumiu.
A mandatária ressaltou que Washington precisa “parar o tráfico de armas para o México”, bem como “controlar quem se dedica ao tráfico no país e enfrentar o problema do consumo”.
“O que quer dizer ‘fazer a parte deles’? Reduzir o tráfico de armas para o México. Recentemente houve uma apreensão envolvendo granadas de mão. Como essas granadas chegam aos EUA e depois entram ilegalmente no México? Eles têm que fazer a parte deles no controle de armas ilegais rumo ao México; e nós fazemos a nossa parte no combate ao tráfico de fentanil e outras drogas para os Estados Unidos. E a colaboração e coordenação precisa funcionar dos dois lados da fronteira, abordando desde a lavagem de dinheiro até a prisão de criminosos violentos”, concluiu.