Centenas de pessoas se reuniram na Esquina Democrática, em Porto Alegre, na sexta-feira (1º), em um ato convocado por centrais sindicais, movimentos populares e organizações políticas no contexto do Dia Nacional de Mobilização pela Soberania Nacional. A atividade denunciou interferências estrangeiras, como a recente taxação de 50% sobre exportações brasileiras para os Estados Unidos, e reafirmou o compromisso das entidades com a defesa dos direitos sociais, trabalhistas e da democracia.
Segundo o vice-presidente do Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers Sindicato), Alex Saratt, o ato se insere em um processo mais amplo de mobilização. “Esse ato dá sequência e acumula para uma série de lutas e jornadas que os brasileiros, especialmente os trabalhadores, a juventude, as mulheres, aqueles que formam a base social e política que reconstrói esse país, estão fazendo.”
Saratt também mencionou a relação entre o contexto nacional e as movimentações internacionais. “Vivemos uma batalha no Congresso Nacional com a questão do IOF e, mais recentemente, uma ação criminosa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ataca a democracia, a soberania e o desenvolvimento nacionais.”
Ele defendeu uma resposta coordenada da sociedade: “O Brasil deve dar uma resposta à altura, fortalecer o diálogo com a sociedade brasileira e enfrentar isso de modo unitário, de forma capaz de barrar a sanha golpista que agora une Trump e a família Bolsonaro”.

Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), Amarildo Cenci, a mobilização representa o repúdio à ingerência internacional. “Nós somos um Brasil soberano, um Brasil democrático, um país com Estado Democrático de Direito e não aceitamos esse ataque, esse assédio feito por esse presidente norte-americano que representa interesses do capital.”
Cenci destacou que esses interesses visam restringir a autonomia brasileira. “Eles não querem que o Brasil componha novas relações comerciais e políticas com o resto do mundo. Querem que o país tire direitos e venda riquezas a preço de banana.”
Ele enfatizou a necessidade de reação popular: “Enquanto a gente rala, eles querem taxar o Brasil, meter a mão nos nossos empregos, nos nossos direitos e na nossa soberania. Nosso petróleo, nossas terras, nossas riquezas, nossa soberania são inegociáveis. Quem manda no Brasil é o povo brasileiro”.
Presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Rodrigo Callais reforçou a mensagem:“Estamos aqui para dizer em alto e bom som que não vamos aceitar a interferência do imperialismo norte-americano, que busca taxar o povo brasileiro, interferir no nosso Judiciário, no processo eleitoral”.

A deputada estadual Luciana Genro (Psol-RS) alertou para os riscos à democracia. “Não é um ataque apenas ao governo Lula ou ao STF. É um ataque a todo o povo brasileiro, às nossas liberdades democráticas e aos direitos conquistados nos últimos anos.”
Ela defendeu o fortalecimento das lutas populares: “Precisamos avançar na organização do movimento sindical, feminista, antirracista, LGBTQIA+ e, especialmente, da classe trabalhadora em defesa dos seus direitos”.
Genro também condenou as tentativas de intimidação ao Judiciário brasileiro. “Eles usam o governo norte-americano para chantagear o Supremo Tribunal Federal, o governo e o povo brasileiro. Mas não passarão. Não vamos permitir que isso aconteça.”

Conflito com os EUA e interesses estratégicos
Segundo as organizações, a medida dos EUA é interpretada como retaliação às decisões do sistema de justiça brasileiro em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Donald Trump, aliado político de Bolsonaro, adotadou medidas para pressionar o Brasil, argumentando perseguição ao aliado sul-americano, que responde por tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023.
Além da questão judicial, os protestos destacaram a disputa por recursos estratégicos, como as terras raras, minérios essenciais para a indústria tecnológica e bélica. O Brasil é o segundo maior produtor mundial, atrás apenas da China.
Para Neiva Lazarotto, da Intersindical, o momento é de alerta. “O império norte-americano está desesperado porque está perdendo seu lugar na divisão internacional da economia e da política, perdendo espaço para os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).”

Ela reforçou a urgência de defesa nacional: “Mesmo com um recuo parcial da taxação, o ataque é desrespeitoso. Precisamos defender a nossa soberania, a nossa indústria, nossa produção e principalmente os empregos da classe trabalhadora”.
Brasil vive intervenção como outros países
O presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça (Sindjus-RS), Fabiano Salazar, ampliou a análise:“O que se passa no Brasil é o que acontece em outras escalas na Palestina e em Cuba, com bloqueios criminosos, assim como em diversos países da América Latina.”
Lucas Monteiro, do Levante Popular da Juventude e coordenador do Plebicito Popular no RS, reforçou esse paralelo. “O que acontece no Brasil é semelhante ao que ocorre há mais de 60 anos em Cuba, com sanções à Venezuela e o genocídio na Palestina.”
Ele criticou o papel dos Estados Unidos: “É esse país que ataca a soberania dos povos e nos coloca em condição subalterna. Mas o povo brasileiro está aqui para dizer que sua soberania é inegociável”.
A vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE) no Rio Grande do Sul, Niara Dy Luz, , também destacou o papel histórico dos EUA. “É um Estado que, no mundo inteiro, provoca fome, guerras, genocídios. Mas aqui não adianta querer ditar regras.”
Ela encerrou com palavras contundentes: “Fora Trump. Ele não é bem-vindo em terras brasileiras. Fora Trump das terras palestinas. Fora Israel e viva o povo brasileiro”.

Demandas sociais e trabalhistas ganham centralidade
O protesto também foi espaço para reivindicar pautas ligadas aos direitos trabalhistas, como a redução da jornada de trabalho, o fim da escala 6×1, e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Segundo Claudio Correa, diretor da Força Sindical, são diversas pautas que ganham centralidade como tema da soberania. “Nós estamos lutando pela redução da jornada. Estamos lutando para que os impostos deixem de penalizar o trabalhador. Mas hoje nossa luta é maior: é contra toda e qualquer tentativa de golpe no Brasil.”