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Bruno Lima Rocha ([email protected] / www.estrategiaeanalise.com.be) é jornalista, cientista político e professor de Relações Internacionais; é membro do ICCEP / O Coletivo e participa da luta p...ver mais

A tempestade perfeita para o anti-imperialismo no Brasil

Os poderes constituídos no país, com a sociedade civil e as forças mais à esquerda sabem que se trata de um momento único

Na manhã desta sexta-feira, 18 de julho, um novo inquérito aberto pela Polícia Federal resultou em restrição de liberdade de movimentos do ex-presidente Jair Bolsonaro, proibição de contatos com embaixadas e diplomatas, colocação de tornozeleira eletrônica e teve dois imóveis seus como alvo de busca e apreensão: sua residência em Brasília e o escritório na sede nacional do PL, a legenda de Valdemar da Costa Neto.

O ato jurídico perfeito foi demandado pela Polícia Federal, considerando que ele, Bolsonaro, assumiu que estava mandando recursos financeiros para o filho que atende pelo apelido de “Duda Bananinha” residente nos Estados Unidos.

Se trata de mais um episódio do Brasil está sob tempestade perfeita. O Congresso, sob controle em condomínio de oligarcas fisiológicos e neofascistas também plutocratas tentam impedir que um governo de coalizão, sob comando social-democrata, realize suas capacidades como poder Executivo. Ao mesmo tempo, as pautas mais populares circulam ao largo do governo Lula 3, como o fim da escala 6×1 e agora a campanha do Plebiscito Popular.

O tempo da pressão interna foi – e está sendo – perfeito. A investigação do Núcleo 1 da trama golpista de 2022 caminha para a prisão de Bolsonaro, militares de alta patente e dois delegados de Polícia Federal. Seu filho 03, o deputado federal em autoexílio Eduardo Bolsonaro (PL/SP) opera em conluio com Paulo Figueiredo (neto do último general presidente da ditadura) a articulação gusana da Florida para aproveitar o momento político.

Trump em seu segundo governo ameaça o planeta com tarifaços, sanções e bloqueios comerciais. O Brasil se torna alvo como uma forma de atingir o Brics e a presença econômica – ainda não financeira – da China no país e na América Latina. Logo, se torna uma tempestade perfeita. Os EUA com sua projeção de poder imperial apontam as baterias contra a economia brasileira, abrem investigação comercial (mirando ativos importantes, como o sistema de pagamento eletrônico, o PIX) e se levadas a cabo as tarifas, ferem setores importantes da economia do Sudeste brasileiro.

O poder Executivo na Casa Branca se verá obrigado a responder ao Brasil, diante da postura institucional do país e do alinhamento de dois terços da população brasileira na defesa da soberania e do funcionamento autônomo nacionais. Para sorte da população brasileira, tanto a direita oligárquica como a extrema direita fascistóide têm comportamentos sabujo e entreguista, se alinhando com a Casa Branca de forma direta ou por omissão, queimando boa parte das chances eleitorais dos prepostos e herdeiros do bolsonarismo.

São duas perspectivas: os EUA dobram a aposta e jogam para a desestabilização do país ou se dá algum nível de recuo, deixando a própria sorte os neofascistas brasileiros. De qualquer forma, os poderes constituídos no país, com a sociedade civil e as forças mais à esquerda sabem que se trata de um momento único.

O que está em jogo vai das exportações brasileiras ao mecanismo de pagamento do PIX – que movimentou em 2024 mais de R$ 21 trilhões em detrimento das plataformas eletrônicas e as bandeiras de cartão de crédito. Passa pelo etanol produzido no país em larga escala desde a ditadura e a projeção de poder do país no Brics e em alguma articulação entre o bloco do Sul com o G20, assim como uma aproximação entre o Mercosul e o Canadá – por iniciativa destes últimos.

Se as forças populares jogarem pesado e aprofundarem na campanha anti-imperialista é a acumulação necessária para sair da chantagem da coalizão e dos oligarcas.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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