A derrota do presidente argentino Javier Milei nas eleições da província de Buenos Aires, principal colégio eleitoral do país, reabriu a disputa política nacional e projetou Axel Kicillof, governador reeleito, como um dos principais nomes da oposição. Reeleito no último domingo (7) com 47,3% dos votos, Kicillof superou a chapa governista La Libertad Avanza (LLA), de Milei, encabeçada por Alejandro Speroni e María Celeste Arouxet, que ficou com 33,7%
“A província de Buenos Aires é um lugar chave na política argentina. Lá moram quase 40% da população, são 40% da economia do país”, destaca o jornalista Gabriel Vera Lopes, correspondente do Brasil de Fato, em entrevista ao podcast O Estrangeiro. “É a mãe de todas as batalhas”, resume.
Segundo Lopes, o resultado fortalece Kicillof também dentro do próprio peronismo e amplia sua projeção nacional. “Ele foi o ministro de economia no segundo mandato de Cristina [Kirchner, ex-presidente da Argentina]. É um cara bem jovem para a política argentina. Para o sistema político da Argentina, ele é visto como um cara radical, como uma uma espécie de ‘kirchnerismo’ de primeira linha”, explica.
Ele destaca que o governador “ganhou não só contra os libertários, mas ele ganhou por ‘paliza’”, gíria política argentina que significa uma vitória esmagadora. O correspondente vê Kicillof já atuando além das fronteiras bonaerenses. “No domingo, ele falou como um candidato [à presidência no futuro], não como governador, mas como líder da oposição a Milei. Tudo indica que ele não é só candidato, ele está se colocando como chefe do peronismo”, analisa.
Futuro do peronismo exige unidade e respostas à crise
Como contraponto, a pesquisadora Amanda Harumi, do Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP), aponta que a reorganização do campo peronista exigirá mais amplitude. “O Brasil é um grande exemplo para a Argentina. Não que tenhamos alcançado o sucesso perfeito, mas fizemos isso: a construção de uma frente ampla e de uma unidade para vencer o bolsonarismo”, exemplifica.
Para ela, o rumo programático também é decisivo para uma virada de chave. “A solução para a Argentina é um projeto nacional. O projeto nacional precisa envolver a industrialização e uma dinâmica das relações internacionais na integração da América Latina, desde o ponto de vista político, mas também do ponto de vista da mercadoria, logístico. A Argentina hoje está alinhada aos Estados Unidos. Ela vai precisar se reincorporar na América Latina. Um dos momentos trágicos da Argentina foi a não entrada nos Brics”, cita.
O podcast O Estrangeiro vai ao ar toda quarta-feira às 11h no Spotify e YouTube.