Repercussão

Bolsonaro "delira" na Assembleia Geral da ONU, diz chanceler de Cuba

Presidente brasileiro foi ao ataque com discurso recheado de fake news e repercutiu negativamente nas redes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bolsonaro voltou a atacar programa Mais Médicos, governo venezuelano e denúncias sobre desmatamento na Amazônia
Bolsonaro voltou a atacar programa Mais Médicos, governo venezuelano e denúncias sobre desmatamento na Amazônia - Foto: Alan Santos/PR

O chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, reagiu às "calúnias" do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que dedicou boa parte de seu discurso de abertura na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (24), para atacar o regime cubano.

"Em 2013, o acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional. Um verdadeiro trabalho escravo, respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU", disse Bolsonaro logo após afirmar que, durante os governos do PT, o Brasil "esteve à beira do socialismo".

"A história nos mostra que, já nos anos 1960, agentes cubanos foram enviados para diversos países para colaborar com a implementação de ditaduras. Há poucas décadas tentaram mudar o regime brasileiro e de outros países da América Latina", concluiu ele, que depois ainda atacaria alvos já usuais como o governo da Venezuela, o Foro de São Paulo, e os interesses das potências estrangeiras na Amazônia. 

Bruno Rodriguez, o chanceler de Cuba, respondeu alguns minutos depois em sua conta no twitter: "Rechaço energicamente as calúnias de Bolsonaro. [Ele] delira e é saudoso dos tempos da ditadura militar [no Brasil]. Deveria se ocupar da corrupção em seu sistema de justiça, [no] governo e [na sua] família.

 

Meio ambiente

Tentando adereçar um dos principais pontos de desgaste de seu governo perante a comunidade internacional, Bolsonaro culpou o "clima seco [...] os índios e populações locais" pelo fogo na Amazônia. Citando a indígena Lysani Kalapalo, que integra a delegação brasileira, o presidente atacou diretamente o cacique Raoni Metuktire, uma das principais lideranças no combate ao desmatamento da Amazônia, acusando-o de estar sendo usado como "peça de manobra" de países estrangeiros. 

O senador Randolfe Rodrigues (Rede), tuitou chamando Raoni de "símbolo da resistência da nossa Amazônia". "Receber ataques desse governo que luta para destruir o nosso futuro só comprova a importância de Raoni na luta pelos direitos dos indígenas e pela preservação da Amazônia!", afirmou o político que representa o Amapá.

 

 

Já a deputada federal Erika Kokai, do PT-DF, escreveu criticando a culpabilização dos indígenas e o silêncio sobre os incêndios criminosos, como aqueles promovidos por fazendeiros apoiadores de Bolsonaro, no chamado "Dia do Fogo".

 

 

Bolsonaro também reafirmou um suposto "compromisso solene com a preservação do meio ambiente" e argumentou que a Amazônia "não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia".

Na realidade, dados do programa Deter, operado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) tem mostrado um aumento vertiginoso da devastação da floresta, resultado tanto do discurso anti-preservação do governo federal quanto do desmonte das políticas e dos órgãos responsáveis pelo combate ao desmatamento.

"Esse negacionismo de Bolsonaro, num tom duro, com cores religiosas e claramente irrealista, diante de 193 mandatários estrangeiros e seus representantes, só vai piorar a imagem brasileira no exterior", escreveu o jornalista Kennedy Alencar em seu blog. "O mundo já percebeu que Bolsonaro, além de autoritário e demagogo de extrema-direita, é um inimigo da preservação ambiental e do combate ao aquecimento climático. Seu discurso aprofundou essa percepção", concluiu ele.

Edição: Rodrigo Chagas