Dedos cruzados

Vacina em janeiro? O que as notícias da semana indicam sobre o andamento dos estudos

Na segunda (7) Rússia anunciou que em breve começará a imunizar a população; na terça (8) Oxford suspendeu seus testes

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Testes com a vacina britânica também foram pausados no Brasil na terça-feira (8) - Reprodução

A semana começou com altos e baixos em relação às expectativas para a vacina contra o coronavírus. Enquanto na segunda-feira (07) o governo russo informou que em breve começará a realizar uma primeira rodada de imunização, na terça-feira (08) os estudos da Universidade de Oxford em parceria com a Astrazeneca tiveram um revés. 

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Em relação a Rússia, as expectativas crescem junto com o mistério. Na sexta-feira (04), resultados preliminares de um estudo feito por pesquisadores que desenvolvem a vacina russa, a Sputnik V, afirmaram que "não houve resultados adversos" entre as pessoas testadas e o composto conseguiu "provocar uma resposta imunológica".

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Ao mesmo tempo, um grupo de 19 cientistas de diversas universidades do mundo assinou uma carta aberta questionando os resultados do estudo publicado.

Por enquanto, o Brasil não tem parceria estabelecida com o governo russo para que a vacina seja produzida aqui. O Paraná anunciou em agosto que pretende criar um acordo, no entanto isso depende de uma avaliação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

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Mas a notícia que mais preocupou os brasileiros é a respeito da vacina do Reino Unido produzida pela Universidade de Oxford em parceria com a empresa Astrazeneca.

Na terça (8) os testes do composto foram suspensos após a suspeita de que tenha havido efeito adverso em um paciente. O protocolo de segurança foi acionado após um dos voluntários no Reino Unido apresentar reação adversa que pode estar vinculada à vacina

A notícia preocupa porque o Brasil estabeleceu uma parceria com a Oxford para ter acesso à tecnologia. Então os estudos sobre a vacina também foram pausados por aqui. 

Ao todo, o Brasil prevê desembolsar R$ 1,9 bilhão com a vacina britânica. Ela será elaborada pela Fiocruz/Bio-Manguinhos, que recentemente deu uma declaração apostando em realizar 30 milhões de imunizações ainda em janeiro de 2021.

O próprio ministro-interino da saúde, Eduardo Pazuello, reforçou a pretensão na segunda-feira (07), um dia antes do revés anunciado pela Astrazeneca.

Em uma reunião ministerial transmitida pelas redes sociais, o militar afirmou que planeja a campanha de vacinação contra a covid-19 para janeiro do ano que vem.

A Fundação Oswaldo Cruz disse que foi informada pelo laboratório britânico e que vai acompanhar os resultados das investigações para se manifestar oficialmente.

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Outras vacinas

Outra forte candidata é a vacina chinesa CoronaVac. Um estudo publicado nesta segunda (7) pela produtora da substância mostrou que os resultados foram seguros para pessoas mais velhas. Contudo, as respostas imunológicas desencadeadas foram ligeiramente mais fracas nesse grupo do que em adultos e jovens.

A CoronaVac tem uma parceria com o Instituto Butantan de São Paulo. Por isso os resultado interessam diretamente o Brasil 

Outra vacina que chama a atenção está sendo produzida pela empresa alemã Pfizer em parceria com a BioNTech. Na segunda-feira (7) foi anunciado que o projeto aumentou o número de voluntários brasileiros para os testes, e já negocia com o governo um plano de fornecimento.

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Com o nome de Soberana 01, a vacina cubana de combate à covid-19 teve seus primeiros ensaios clínicos para demonstrar sua eficácia iniciados no dia 24 de agosto. 

Longo caminho

Todas essas vacinas estão na chamada terceira fase de avaliação, quando o ensaio é realizado em em larga escala (com milhares de indivíduos) e que precisa fornecer uma avaliação definitiva da sua eficácia e segurança em maiores populações.

Além disso, feita para prever eventos adversos e garantir a durabilidade da proteção. Apenas depois desta fase é que se pode fazer um registro sanitário.

Até que a vacina chegue ao público, são grandes as chances de que medidas como o distanciamento social, a testagem em massa e a rigidez na higiene continuem sendo necessárias, em menor ou maior escala, a depender da situação do cada país. O Brasil, que teve os primeiros registros oficiais do novo coronavírus em fevereiro, pode ser um dos que mais vão demorar para conseguir sair do patamar em que essas ações são extremamente necessárias.

Edição: Lucas Weber