Atenção

Reinfecção por coronavírus acende mais um alerta da pandemia

Ministério acompanha outros 58 casos suspeitos; "guerra da vacina" é destaque na cena política   

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Fiocruz afirma que reinfecção pelo novo coronavírus pode ocorrer dentro de 90 dias - Ricardo Wolffenbuttel/Governo de SC
É um momento de redobrar os cuidados – evitar o máximo possível os espaços de aglomeração

Esta é mais uma semana em que o panorama da covid-19 no Brasil ganha ares de turbulência. Um dos destaques do período foi a confirmação, na última quarta-feira (9), de um caso de reinfecção pelo vírus por parte da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo a autarquia, a situação comprovada se deu com uma médica de 37 anos que vive em Natal (RN). Outros 58 casos suspeitos de reinfecção estão sob investigação, de acordo com o Ministério da Saúde.

Os especialistas afirmam que os critérios utilizados para tirar a prova desse tipo de caso envolvem um intervalo mínimo de 90 dias entre as duas infecções, bem como resultados positivos do exame de PCR nas duas situações. A notícia emite um alerta para quem acompanha mais de perto o assunto, especialmente na área da saúde.

“É uma notícia importante porque é uma confirmação mais estudada e criteriosa de reinfecções. Por outro lado, isso ainda é uma porcentagem pequena. Mas liga o alerta porque, se isso está sendo documentado, é sinal de que podemos ter muito mais casos. Não causa surpresa, pânico, mas chama atenção”, afirma Aristóteles Cardona, da Rede de Médicas e Médicos Populares.

O profissional ressalta que é necessário seguir na linha da prevenção sanitária: “Quem já teve a doença precisa manter os cuidados, não só porque pode ser carregador do vírus pra pessoas que ainda não adoeceram, mas porque agora a gente tem a comprovação de reinfecção”.

Cardona explica que ainda é cedo para saber se uma variação na linhagem do vírus estaria ligada ao cenário de novas infecções nos mesmos pacientes. “Pelos estudos genéticos que a gente tem visto, já é possível encontrar tipos diferentes entre o vírus que circula no Norte do país e no Sul, por exemplo, mas daí considerar que novos tipos da doença estejam determinando a possibilidade de reinfecção ou não [é algo que] a gente ainda não sabe. Isso está em aberto, está sendo estudado”, esclarece.   

Outro capítulo da pandemia que se sobressaiu ao longo desta semana foi o acirramento da disputa em torno de um imunizante contra o novo coronavírus. Uma verdadeira “guerra da vacina” dá o tom das atuais articulações entre os principais atores políticos do país.   

O jogo envolve a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, bem como parlamentares, prefeitos e governadores. Estes últimos fizeram novamente pressão sobre o governo ao longo da semana para pedir celeridade na liberação da aplicação de vacinas autorizadas em países com instituições científicas de referência, como é o caso dos Estados Unidos.  

Eles também entoam um coro coletivo pela organização de um cronograma de vacinação no país. “A gente precisa cobrar [isso] do governo Bolsonaro, apesar de toda a incapacidade que eles têm demonstrado. É preciso que haja um plano nacional de imunização, que isso seja coordenado, seja controlado [pela gestão federal], senão a gente não resolve o problema”, sublinha Aristóteles Cardona.

Enquanto isso, em forte polarização política com Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), largou na frente e confirmou, na quinta (10), o início da produção de vacina pelo Instituto Butantan. A iniciativa gerou intensas rusgas com outros governadores, que se dizem pressionados pelas bases sem terem condições de fazer o mesmo por conta da demora da gestão Bolsonaro em agilizar os processos administrativos relacionados à imunização.

A disputa tem, nos bastidores, a pressão sobre os gestores para se evitar o fechamento do comércio, o caos econômico e sanitário, mas também os interesses políticos voltados a 2022, quando o país enfrenta uma nova corrida à Presidência da República.

Na quinta (10), a Anvisa acabou liberando o uso emergencial de vacinas contra a covid-10. “Eles têm falado que vão correr pra [garantir] essa liberação. Isso é uma coisa positiva”, comenta Cardona, ao lembrar os freios políticos que a autarquia vem sofrendo do governo Bolsonaro, que colocou militares para cuidarem da política de vacinas da agência.

Por fim, enquanto a disputa política se delineia, os números da covid-19 no Brasil seguem em alta. Na sexta (12) à noite, o boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) deu conta de um total de mais de 6,8 milhões de infectados, com 180.437 brasileiros mortos.

A curva ascendente das estatísticas é um ponto de atenção para a população, especialmente pelo período natalino, quando festas e confraternizações tomam contam das agendas de final de ano.

“É um momento de redobrar os cuidados – evitar o máximo possível os espaços de aglomeração, etc. É bom encontrar as pessoas neste período, mas a realidade concreta nos orienta, nos obriga a redobrar os cuidados”, alerta Cardona.

Edição: Rodrigo Chagas