Dez óbitos de jornalistas brasileiros em decorrência da covid-19 foram registrados nos últimos dez dias, o que representa um acréscimo de 18% no total de mortes registrado na categoria desde o início da pandemia. Para efeito de comparação, no conjunto da população do país, a curva foi de 4,8% no mesmo período.
Os dados foram divulgados na última quinta-feira (14) pela da Press Emblem Campaign (PEC), organização não governamental (ONG) suíça com status consultivo especial das Nações Unidas.
Em relação à média de óbitos registrada entre 11 de março de 2020 e 5 de janeiro de 2021, houve um aumento de 446%. Com 65 mortes ao todo, o Brasil em 2º lugar no ranking mundial de óbitos de jornalistas, atrás apenas do Peru, com 95.
A PEC informa que o levantamento foi feito em 59 países com ajuda de associações de jornalistas nacionais e mídia local, e apresenta um total de 630 jornalistas mortos pela doença no mundo.
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Presidenta da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga diz que a entidade não conhece a origem dos números no Brasil. “Eles falam que foram colhidos com a colaboração de associações de jornalistas e mídia, mas Fenaj e os sindicatos de jornalistas filiados não foram consultados”, afirma.
A Fenaj contabilizou nove jornalistas e três radialistas mortos por covid-19 até agosto de 2020. “O acompanhamento era feito através das informações dos sindicatos: nome do jornalista falecido, onde ele trabalhava, dia do falecimento. Era a informação completa”, explica Braga.
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Desde então, não foi possível acompanhar os dados. “São muitas as demandas”, ressalta a presidenta da Fenaj. “Por exemplo, os jornalistas atingidos por medidas de redução salarial com redução de jornada. Então, nosso esforço ficou concentrado mais nas questões trabalhistas. Até porque as informações que nós tínhamos, do ponto de vista das medidas preventivas ou cuidados necessários para proteção dos jornalistas em relação ao novo coronavírus eram relativamente satisfatórias.”
Entre 20 de maio e 10 de junho de 2020, a Federação realizou uma pesquisa sobre as condições de trabalho dos jornalistas durante a pandemia e constatou que 75,2% conseguiram trabalhar a partir de casa.
Depois de agosto, alguns sindicatos conseguiram manter o envio de informações à Federação. É o caso da Paraíba, onde Braga afirma que a Fenaj contabilizou outras cinco mortes.
“Agora, até em razão desse número – que nós consideramos muito elevado – divulgado pela PEC, estamos pedindo para os sindicatos o esforço de levantar, em cada estado, o número de jornalistas falecidos pela covid”, afirma.
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Sobre a escalada de óbitos nos últimos dias, a presidenta da Fenaj teve conhecimento de três mortes de jornalistas em Manaus (MA).
“No nosso entendimento e do sindicato, [as mortes] estão relacionadas à questão geral do colapso no estado do Amazonas e, em especial, em Manaus. Não têm uma relação direta com a profissão, embora dois deles tenham sido infectados em decorrência do exercício profissional. O outro já era aposentado e faleceu aos 77 anos”, informa Braga.
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As outras sete mortes, contabilizadas pela PEC nos últimos dez dias, teriam ocorrido em Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Segundo o relatório da PEC, o Brasil concentra mais de 35% das mortes de jornalistas ocorridas desde 5 de janeiro.
Atrás do Brasil no ranking de óbitos na categoria desde o início da pandemia, estariam, respectivamente, Índia (53), México (52), Bangladesh (43), Equador (42), Itália (37), Estados Unidos (32), Paquistão (22), Turquia (17) e Reino Unido (14).
Edição: Leandro Melito