Governo na mira

Ao vivo: "Capitã Cloroquina" depõe na CPI da Covid sobre "tratamento precoce"

Mayra Pinheiro é defensora do chamado "kit covid" com cloroquina e secretária do Ministério da Saúde

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Mayra Pinheiro poderá ficar em silêncio se for indagada sobre episódios ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 - Júlio Nascimento/PR

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado Federal vai ouvir, nesta terça-feira (25), a secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, também conhecida como "Capitã Cloroquina".

Mesmo após decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que diz que a servidora poderá ficar em silêncio sobre fatos que aconteceram entre os meses de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, o depoimento de Pinheiro é bastante aguardado.

A expectativa é que ela fale sobre a distribuição de remédios do "kit covid", drogas que não têm eficácia comprovada contra a doença e que podem até piorar o quadro de pessoas doentes, mas que foram incansavelmente defendidas pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

:: CPI reúne elementos que comprovam omissão do governo na compra de vacina contra covid ::

Ela também deverá falar sobre os motivos que a levaram defender o chamado "tratamento precoce", com os medicamentos sem eficácia atestada contra a doença.

Além disso, ela deverá ser questionada pelos senadores sobre a criação do aplicativo TrateCov, que foi lançado oficialmente em 11 de janeiro. 

A iniciativa do próprio Ministério da Saúde prescrevia medicamentos do chamado "kit Covid" para pacientes sem que se realizasse consulta médica prévia. Durante o depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ele disse que a ideia para a criação da plataforma tinha partido dela.

Crise em Manaus

Como a decisão de Lewandowski permite que ela fique em silêncio sobre os fatos ocorridos entre dezembro de 2020 e janeiro deste ano, a médica não deverá trazer muitos esclarecimentos sobre o colapso da rede hospitalar e da crise de oxigênio em Manaus.

Ela já está respondendo a uma ação de improbidade administrativa, apresentada pelo Ministério Público Federal do Amazonas, que apura se houve algum tipo de omissão por parte do governo federal na crise que atingiu a região. Por causa disso, não é obrigada a testemunhar sobre episódios envolvendo este tema, para que não corra o risco de produzir provas contra si mesmo

Histórico

A médica pediatra cearense foi nomeada para o Ministério da Saúde por Luiz Henrique Mandetta, ainda em 2018.

Pinheiro e Mandetta se conheceram em 2013, como representantes de uma articulação autointitulada "Movimento Médico". A principal demanda do grupo, à época, era o fim do programa Mais Médicos, que proporcionou a vinda de 8 mil médicos cubanos ao Brasil.

Por meio de um acordo de cooperação com o governo de Cuba, os profissionais da ilha caribenha eram chamados a trabalhar em municípios onde faltavam médicos. O acordo foi rompido no final de 2018, após a vitória de Bolsonaro nas eleições e a indicação de Mandetta como ministro.

Em agosto de 2013, imagens da agência FolhaPress mostraram que Pinheiro foi uma das médicas que hostilizou colegas cubanos em sua chegada ao Aeroporto de Fortaleza (CE). Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, eles foram recebidos sob os gritos de "escravos" pelos profissionais brasileiros. A médica cearense nega ter vaiado ou xingado os cubanos.

Em paralelo, Mandetta, então deputado federal pelo DEM, era uma das vozes mais críticas ao Mais Médicos na Câmara, em Brasília (DF). Uma das suas bandeiras, ao tomar posse, cinco anos depois, era justamente acabar com o programa, exigindo que os cubanos se submetessem a exames de validação de diploma.

Renova BR

Em fevereiro de 2018, Mayra Pinheiro foi uma das 100 pessoas selecionadas para receber um auxílio de até R$ 12 mil para participar de curso de formação em política, bancado pelo movimento Renova Brasil (Renova BR). O grupo é financiado por Luciano Huck, entre outros empresários, e já formou mais de 2 mil alunos.

A ideia é que os ex-alunos concorram a cargos eletivos no país. Nas eleições de 2018, 17 formados na primeira turma do Renova foram eleitos para cargos no Congresso Nacional e em Assembleias Legislativas: um senador, nove deputados federais e sete deputados estaduais.

À época, Pinheiro era filiada ao PSDB. Em 2014 e 2018, havia sido derrotada nas eleições para a Câmara dos Deputados e o Senado, respectivamente. Em 2020, foi cotada para disputar a Prefeitura de Fortaleza pelo Partido Novo (ela havia se filiado ao partido no ano anterior), mas a legenda decidiu não lançar candidato próprio.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Pinheiro se desfiliou do Novo em 9 de março de 2021.

Notícia falsa

Entre as declarações mais agressivas de Mayra Pinheiro, estão críticas à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma das principais instituições científicas do país, que produz a vacina Oxford/AstraZeneca contra a covid-19.

Em áudio de 2020 divulgado pela revista Piauí, a médica diz: "Tudo deles (da Fiocruz) envolve LGBTI. Tem um pênis na porta da Fiocruz. Todos os tapetes das portas são a figura do Che Guevara. Nas salas, tem figurinhas de 'Lula Livre' e 'Marielle Vive'." Nenhuma das informações procede.

Acompanhe o minuto a minuto do depoimento:
 

Edição: Vinícius Segalla