Retirada de civis

Cessar-fogo fracassa e corredor humanitário é suspenso pela segunda vez na Ucrânia

Forças russas e ucranianas se acusam mutuamente de não obedecer ao cessar-fogo temporário

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ucrânia pretende retirar 200 mil pessoas de Mariupol e 15 mil de Volnovakha ambas na região separatista de Donetsk - AFP

A segunda tentativa de retirar os moradores de Mariupol, na região portuária ao leste da Ucrânia, foi interrompida depois que separatistas pró-Rússia e a Guarda Nacional da Ucrânia se acusaram mutuamente de não obedecer ao cessar-fogo temporário que permitiria o corredor humanitário, segundo a Câmara Municipal da cidade.  

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Em entrevista à televisão Ukraine 24, um soldado do Batalhão de Azov, da Guarda Nacional ucraniana, que surgiu como uma força da extrema-direita com simbologias nazistas, disse que as forças russas e pró-russas continuaram bombardeando o local. Irina Vereshchuk, ministra para Territórios Ocupados, ao jornal Pravda da Ucrânia pediu à Rússia “que acabe com o bombardeio e retome o cessar-fogo para que crianças, mulheres e idosos possam deixar os assentamentos". 

Já à agência de notícias russa Interfax, um funcionário do governo separatista pró-Moscou da região de Donetsk acusou as forças ucranianas de não respeitarem o cessar-fogo. O presidente russo, Vladimir Putin, também responsabilizou a Ucrânia pelo fracasso na operação. Putin acusou "bandidos e neonazistas ucranianos" de impedirem a retirada das pessoas. 

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De acordo com informações da Agência Reuters, a Ucrânia pretende retirar 200 mil pessoas de Mariupol e 15 mil de Volnovakha, ambas na região separatista de Donetsk, durante o cessar-fogo, que está sendo acompanhado pela Cruz Vermelha.  

Em Mariupol, o prefeito Vadym Boychenko informou que a população está submetida a um bloqueio em diversas frentes: sem água, energia elétrica, alimentos, gás e transporte. “A cidade está em um estado de sítio muito, muito difícil. (...) O bombardeio implacável de quarteirões residenciais está em andamento, os aviões estão lançando bombas em áreas residenciais", disse Boychenko a uma TV ucraniana. 

O controle da cidade é estratégico para a Rússia, porque permitiria o contato territorial com as forças pró-russas da península da Crimeia e dos territórios separatistas da Ucrânia. 

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Ucranianos atravessam ponte destruída na cidade de Irpin, no dia 5 de março de 2022 / Aris Messinis / AFP

Ataque em Irpin 

A Rússia informou que o cessar-fogo não vale para todo o território ucraniano. Neste domingo, uma mulher e duas crianças morreram após um ataque russo à rota de fuga dos moradores de Irpin, a noroeste de Kiev, onde o cessar-fogo não foi estabelecido pela Rússia, informou o governo da Ucrânia por meio de uma mensagem no Telegram

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Aeroporto destruído 

Segundo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o aeroporto civil de Vinnytsia, na região oeste do país foi destruído completamente por oito mísseis russos, neste domingo (6), conforme vídeo divulgado em sua conta oficial no Twitter

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Visa e Mastercard suspendem operações na Rússia 

Diante do conflito entre Rússia e Ucrânia, os bancos russos Sberbank, Alfa Bank e Tinkoff anunciaram neste domingo (6) que vão emitir cartões de pagamento com o sistema chinês UnionPay acoplado à rede russa Mir, depois que Visa e Mastercard decidiram suspender as operações na Rússia, no sábado (5). 

Por nota, a Visa informou que os cartões com sua bandeira vão deixar de operar no país. Já a Mastercard declarou que os cartões emitidos por bancos russos não serão mais suportados pela rede.  

"Somos compelidos a agir após a invasão não provocada da Ucrânia pela Rússia e os eventos inaceitáveis que testemunhamos”, disse Al Kelly, presidente e CEO da Visa, por meio da nota. “Lamentamos o impacto que isso terá em nossos valiosos colegas e nos clientes, parceiros, comerciantes e titulares de cartões que atendemos na Rússia. Esta guerra e a ameaça contínua à paz e à estabilidade exigem que respondamos de acordo com nossos valores", completou Kelly. 

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Prédio danificado após bombardeio na segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, em 3 de março de 2022 / Sergey Bobok / AFP

Número de mortos e refugiados  

Passou de 1,5 milhão o número de refugiados da Ucrânia desde o começo da invasão russa, em 24 de fevereiro, segundo dados divulgados neste domingo (6) pelo alto comissário das Nações Unidas (ONU) para refugiados, o italiano Filippo Grandi, em seu perfil no Twitter. "Mais de 1,5 milhão de refugiados da Ucrânia entraram nos países vizinhos em 10 dias - é a crise de refugiados de crescimento mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial", publicou. 

O principal destinos dos ucranianos é a Polônia, que já recebeu cerca de 920 mil pessoas, sendo 129 mil apenas neste sábado (5). Ao todo, a Ucrânia tem 44 milhões de habitantes. 

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Em relação ao número de mortos, de acordo com o balanço deste domingo divulgado pela ONU, pelo menos 364 civis ucranianos morreram e 759 ficaram feridos, número confirmado por correspondentes internacionais. O órgão afirma, no entanto, que o balanço está subnotificado, “especialmente em território controlado pelo Governo e particularmente nos últimos dias”, uma vez que "o fluxo de informações sofreu atrasos devido aos combates" em curso e "muitos pormenores sobre as vítimas ainda estão à espera de verificação”. 

Em entrevista à imprensa, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky informou neste sábado (5) que cerca de 10 mil soldados russos foram mortos durante a invasão. 

 

Entenda o conflito 

Desde o final de 2021, tropas russas passaram a se concentrar nas proximidades da Ucrânia, e o Ocidente enviou armas para os ucranianos.  

O conflito tem como pano de fundo o mercado de energia na Europa e os limites da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar composta por membros alinhados aos Estados Unidos, em direção à fronteira russa. 

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Outro elemento central é o fracasso dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015 como uma tentativa de construir um cessar-fogo para a guerra civil na Ucrânia. A ferramenta diplomática previa condições de autonomia para áreas separatistas de Donetsk e Lugansk e a retirada de armas da região em que tropas ucranianas enfrentavam os rebeldes.  

O governo de Kiev se recusava a cumprir a parte política prevista pelos acordos, já que isso poderia causar uma fratura em sua soberania. 

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A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro sob a justificativa de “desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho. Desde então, União Europeia e Estados Unidos anunciaram sanções como resposta e também fornecem armas aos ucranianos. 

Edição: Vivian Virissimo