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Casos de covid sobem em escolas municipais de São Paulo, indica levantamento

Secretaria de Educação não divulga números, mas levantamentos feitos por conselheiros de escolas mostram descontrole

São Paulo (SP) |
A volta da obrigatoriedade de máscaras é uma das ações para diminuir o contágio pelo coronavírus nas escolas - Rovena Rosa/Agência Brasil

Seguindo o movimento de crescimento da pandemia na cidade, as escolas municipais de São Paulo estão passando por uma explosão de casos de covid-19. Um levantamento realizado pelo Conselho de Representantes dos Conselhos de Escola (Crece Central), colegiado que reúne representantes de Conselhos Escolares de todas as Diretorias Regionais de Ensino (DRE) da Capital, mostra que 90% das 331 unidades que responderam ao questionário reportaram casos de covid entre os dias 23 de maio e 13 de junho. 

A pesquisa foi feita por meio de formulário enviado à gestão de todas as 1.510 unidades diretas – ou seja, administradas pelo município – da rede municipal. As 2.214 unidades parceiras – que pertencem à iniciativa privada, mas prestam serviços exclusivos para a Prefeitura – não participaram do levantamento porque não são obrigadas a criar um conselho escolar nem a indicar membros para o Crece. 

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Apesar de contar com um sistema de notificação compulsória de dados nas unidades escolares, a Secretaria Municipal de Educação (SME) não respondeu à solicitação dos dados oficiais realizada pelo Brasil de Fato. O Crece Central também solicitou à Secretaria os dados de covid-19 nas escolas, mas não obteve retorno. 

82 salas afastadas 

Outro levantamento, informal, realizado pelo Crece Santo Amaro – que reúne representantes dos Conselhos Escolares de todas as escolas municipais diretas da DRE Santo Amaro, na Zona Sul da Capital – entre os dias 4 e 10 de junho identificou 92 casos de covid em 27 das 98 unidades da região  

As unidades que estão em situação mais grave, no entanto, não informaram o número total de casos, mas sim a quantidade de turmas afastadas. Ao todo, 82 salas foram colocadas em ensino remoto, além de todo o período matutino de uma Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) e de todas as salas de uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef). Para evitar perseguição aos servidores, os nomes das unidades serão preservados. Essa pesquisa não foi enviada formalmente para todas as unidades, portanto os números representam apenas uma parte das escolas da área. 

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De acordo com Melissa Ribeiro Saraiva, representante do Crece Central, não há esforço da gestão municipal em mostrar a real situação da contaminação nas escolas. “Temos um desencontro de informações. As próprias escolas têm dificuldade para divulgar os dados, mesmo dentro de sua comunidade”, diz. 

Para ela, o aumento de casos mostra que o protocolo sanitário em vigor nas escolas não é suficiente para evitar a transmissão. “O protocolo deveria ser modificado tendo em vista a realidade da escola pública. Não temos ventilação adequada e há um número grande de estudantes por sala de aula, o que facilita a contaminação, afirma Melissa.  

“Precisamos da volta da obrigatoriedade do uso de máscaras dentro das escolas, que são ambientes de longa permanência”, acredita. “É preciso também investir em campanhas de conscientização sobre coronavírus em toda rede e de ações uniformes para o enfrentamento do vírus na rede, inclusive nas unidades indiretas”, acredita.  

Diferentes cidades, mesmo cenário 

Há registros de surtos de covid em escolas em diversas cidades, em especial nas regiões Sul e Sudeste. Em Florianópolis, até o dia 10 de junho, já haviam sido registrados 53 surtos em unidades educacionais, com um total de 269 casos confirmados. A cidade de Belo Horizonte contou, entre 24 de abril e 4 de junho, 35 surtos em escolas públicas ou privadas, com confirmação de 167 alunos ou funcionários contaminados. 

Os casos no Brasil seguem em crescimento, especialmente na região Sudeste, mesmo com a subnotificação. “Minha grande preocupação é que estamos apenas vendo a ponta do iceberg, tanto de casos em crianças como na população de maneira geral", afirma Alexandra Boing, epidemiologista da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e integrante do Observatório Covid-19Br. "Houve erros sistemáticos de comunicação, o que acabou não pautando a questão da importância da testagem para a identificação oportuna, para o rastreamento de contatos e para o isolamento”, diz Boing.  

Ela diz, ainda, que os sintomas gripais das crianças podem ser relativizados pelos responsáveis, principalmente em casos leves. Boing lembra que, ainda que sejam menos atingidas pela covid-19 do que idosos ou adultos, as crianças também sofrem com a doença. "Existem casos graves e mortes em bebês, crianças e adolescentes. No Brasil, as mortes [nessa faixa etária] são superiores a vários outros países e têm aumentado de maneira importante nas últimas ondas", explica.

Além disso, existe um grande impacto da doença na vida dos afetados e nos sistemas de saúde. "A covid-19 não pode ser considerada de maneira binária, com as opções de viver ou morrer. Existe um impacto da doenças, até um impacto desconhecido", diz Boing. 

Medidas de prevenção

Mesmo diante dos surtos, do aumento de casos nos municípios e do colapso na saúde em algumas cidades e estados, as políticas de prevenção não estão sendo adotadas. Para o controle das contaminações nas escolas, a adoção de diferentes camadas de proteção. Alguns pontos enumerados por Alexandra Boing para manejar esse risco são: propiciar um ambiente ventilado; realizar o monitoramento do CO2; compatibilizar as questões pedagógicas com o distanciamento físico; utilização de máscaras de boa qualidade bem ajustadas, preferencialmente a PFF2; realização da testagem ativa e a vacinação de todos, inclusive das crianças elegíveis. A comunicação dos casos existentes entre toda a comunidade escolar também é um ponto que ajuda no controle.

Edição: Rodrigo Durão Coelho