ALIMENTAÇÃO

Vozes Populares | Alto consumo de ultraprocessados reflete cenário de insegurança alimentar

Sem poder de compra, produtos de menor custo e baixo valor nutricional vira alternativa para trabalhadores

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Os ultraprocessados são formulações industriais que são produzidas em várias etapas de processamento - CEE Fiocruz
Sem reajuste de salário de acordo com a inflação, o que você vai priorizar? Os ultraprocessados.

Você sabia que cerca de 100 bilhões de pacotes de miojo são consumidos no planeta por ano? O Brasil, por sua vez, é o 10º país que mais consome o produto no mundo, segundo dados da Associação Mundial de Macarrão Instantâneo (WINA, na sigla em inglês).

Campeão do sódio e do aditivo, o miojo, nome popular dado ao macarrão instantâneo, é um ultraprocessado que oferece riscos para a saúde de quem o consome. Mas, em um país que voltou ao Mapa da Fome, as empresas que vendem o produto a menor custo que o macarrão tradicional têm visto seu lucro aumentar. O que isso diz sobre a qualidade do alimento que está na mesa do trabalhador? Este é o tema desta edição do Vozes Populares.

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Sem poder de compra, brasileiros optam por alimentos de baixo valor nutricional

Você sabe identificar os alimentos ultraprocessados? Eles são formulações industriais que são produzidas em várias etapas de processamento. Pesquisadores chegam a dizer que esses produtos não deveriam ser considerados comida. Eles possuem níveis excessivos de ingredientes pouco saudáveis, como sódio, açúcar, gorduras, conservantes, cores e sabores artificiais. Biscoitos recheados, salgadinhos, refrigerantes… tudo isso entra na lista.

Reginaldo Xavier, presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do Estado de Pernambuco, afirma que não é por acaso o alto consumo desses produtos por parte dos brasileiros. "Você tem um salário que não é ajustado de acordo com a inflação, você tem a alta de preços... o que é que você vai priorizar? Os ultraprocessados, produtos de baixo valor nutricional, porque eles estão mais baratos, você tem acesso e vai consumir eles", explica. 

Reginaldo faz uma crítica: a entrega de cestas básicas não resolve o problema, nem da fome, nem da questão nutricional. Esse é apenas um paliativo.  "Nós estamos em uma grande encruzilhada, porque você não vai fazer com que as pessoas melhorem a qualidade da alimentação se você não priorizar políticas estruturantes", defende. Segundo ele, enquanto não houver políticas públicas voltadas para pensar a segurança alimentar e nutricional no seu conceito amplo, a população continuará consumindo esses produtos e com o risco de desenvolver doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. 

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Portanto, para Reginaldo, é urgente que se olhe para os dados de insegurança alimentar no Brasil e que haja soluções concretas para a mudança desse quadro. Ele afirma que isso tem sido feito por organizações, movimentos e sociedade civil. Como exemplo, cita a Conferência de Segurança Alimentar Estadual de Pernambuco, que acontece em dezembro para debater o tema. 

"Para garantir a segurança alimentar, a gente precisa de comida de verdade, comida de qualidade, e essa comida de verdade passa por entender que não dá pra imaginar a segurança alimentar sem o respeito à biodiversidade, sem o fortalecimento da agricultura familiar. A gente tem que produzir com respeito à cultura alimentar de cada região, de cada estado, de cada povo", traz o presidente como alternativa.

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Se por um lado a população perde em qualidade e nutrição, a indústria alimentícia ganha em lucro ao transformar comida em mercadoria. Grande parte da solução dessa questão deve vir por parte do Estado e das multinacionais, mas o que você pode fazer para ter um consumo mais consciente?

Em primeiro lugar, estar atento ao rótulo dos produtos e a tabela nutricional de cada um deles. Quanto mais extensa a lista, mais você deve ficar alerta! Além disso, acompanhe o debate sobre segurança alimentar e cobre dos parlamentares políticas públicas sobre o tema. Comida na mesa é direito de todos, e comida de verdade, também.

Ouça o programete na íntegra no começo desta matéria.

Edição: Vanessa Gonzaga