INTERNACIONALISMO

Lula recebe autoridades de 120 países, veja temas estratégicos de debate

Ao todo, 10 presidentes entre os 12 países da América do Sul estarão em Brasília para reunir-se com Lula

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Luiz Inácio Lula da Silva assumirá o terceiro mandato como presidente no próximo domingo ao lado de 17 chefes de Estado e representações de 120 países - Evaristo Sa / AFP

Neste domingo (1º), acontecerá a maior cerimônia de posse presidencial da história do país. São esperadas delegações de 120 países para acompanhar o início do terceiro mandato de Lula da Silva. Além de acompanhar a cerimônia, muitos chefes de Estado também irão reunir-se com o presidente para afiançar as relações bilaterais.

Pelo menos 18 chefes de Estado confirmaram presença: Alemanha, Angola, Argentina, Bolívia, Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Guiné-Bissau, Paraguai, Portugal, Suriname, Timor Leste, Uruguai, Venezuela, Zimbábue e Espanha, que enviará o rei Felipe VI. O antecessor, Jair Bolsonaro (PL) recebeu dez chefes de Estado e 18 delegações durante sua posse.

Entre os países da América do Sul, há maior expectativa sobre a possibilidade de reestabelecer projetos em campos estratégicos. Somente a Guiana Francesa e o Peru não estarão representados pelos seus presidentes. O Brasil de Fato elencou os temas centrais de cooperação com as maiores economias sul-americanas. 

Na sua primeira coletiva de imprensa, o chanceler Mauro Vieira deixou claro que o objetivo da política externa do Brasil será "reconstruir pontes" e buscar a reaproximação com "nossos vizinhos sul-americanos" será prioridade para a diplomacia do próximo governo, garantindo o retorno do Brasil à Celac (Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos) e à Unasul (União Nações Sul-Americanas).

Argentina

O presidente Alberto Fernández foi o primeiro chefe de Estado a viajar ao Brasil depois do segundo turno das eleições presidenciais. "Lula é um homem de bem, é um líder na região. Estamos muito felizes", disse Fernández no dia 31 de outubro.

Fernández foi chefe de gabinete do ex-presidente Nestor Kirchner, por isso sua relação com Lula iniciou já em 2003.

A Argentina é o principal sócio comercial do Brasil na região e o maior aliado no Mercado Comum do Sul (Mercosul).

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Somente nos primeiros nove meses de 2022, o Brasil exportou US$ 11,881 bilhões para a Argentina, representando um aumento de 35,9% em relação ao mesmo período de 2021. As importações brasileiras de produtos argentinos alcançaram  US$ 9,705 bilhões, um aumento de 19,2%.

Em 2023, Argentina e Brasil irão presidir o Mercosul. Tanto o presidente Alberto Fernández, como o próximo ministro de Economia, Fernando Haddad, já sinalizaram para a disposição em intensificar o comércio intrabloco e discutir a criação de uma moeda sul-americana: a Sur

Bolívia

O presidente boliviano Luis Arce viajou ao Brasil em plena campanha eleitoral, em setembro, para reunir-se com Lula, o ex-chanceler Celso Amorim e o então candidato a governador, Fernando Haddad. 

"Há muita esperança com o novo governo, queremos abordar temas de agenda regional e também reconsturir nossa agenda bilateral com o Brasil, que durante os últimos quatro anos foi paralisada", disse Arce a meios locais.

Agora a vice-ministra de comunicação da Bolívia, Gabriela Alcón, já confirmou que a prioridade da reunião será discutir a retomada de laços comerciais com o Brasil e levantar informações sobre a proteção de ex-ministros golpistas da gestão de Jeanine Áñez no território brasileiro.

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Outro tema estratégico para o diálogo com a Bolívia é a relação entre a Petrobrás e a YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos). 

As empresas vivem uma polêmica por um contrato assinado durante a gestão da ex-presidenta golpista Jeanine Áñez. O acordo previa que a YPFB pagasse pelo transporte de gás ao Brasil no lado boliviano do gasoduto Gasbol, gerando um custo de cerca de US$ 70 milhões por ano. Pelas divergências entre as duas estatais, hoje o Brasil recebe apenas 4 milhões de m³ diários, 10 milhões de m³ a menos do que o contratado. 

Em abril deste ano, a Bolívia reduziu 30% do abastecimento de gás ao Brasil, preferindo exportar para a Argentina, que agora recebe 14 milhões de m³ de gás por dia do país vizinho. “Não se trata de um complô socialista, é uma questão de oportunidade comercial”, declarou o ministro boliviano de Energia e Hidrocarbonetos, Franklin Molina. 

O preço pago pelos argentinos pela cota extra de gás foi de US$ 20 o milhão de BTU — ante os cerca de US$ 7 o milhão de BTU pagos pelo Brasil.

Além disso, a Bolívia faz parte do chamado Triângulo do Lítio, junto a Argentina e Chile, concentrando 68% das reservas deste mineral na região. Uma das orientações previstas no último plano econômico da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) é a industrialização da cadeia do lítio, unindo esforços entre os países com as maiores reservas e as nações mais industrializadas da região.

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Chile

O presidente chileno, Gabriel Boric, viaja a Brasília com a expectativa de manter o comércio bilateral. 

Em 2022, o fluxo comercial Brasil-Chile totalizou US$ 11,421 bilhões, com um saldo favorável à parte brasileira em US$ 2,547 bilhões.

Logo após a vitória no dia 30 de outubro, o presidente chileno telefonou para Lula e diz que o Chile tem ‘muito o que aprender’ com o petista. Nas redes sociais, Boric escreveu que “seu triunfo é uma alegria para a América Latina e para o mundo”. 

Colômbia

O recém eleito Gustavo Petro irá marcar presença na cerimônia de posse em Brasília. A vice-presidenta Francia Márquez também esteve no Brasil durante a campanha eleitoral, manifestando esperança sobre a possível vitória de Lula. 

Francia veio conhecer de perto as experiências das políticas de inclusão social e as ações afirmativas para levar ao Ministério da Igualdade e Equidade, chefiado por ela na Colômbia.

Além disso, a pauta ambiental é outro assunto que deve rondar os debates entre os presidentes dos dois países.

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Já na COP27, celebrada em novembro no Egito, Lula propôs convocar uma reunião da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que inclui o Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Suriname, Guiana, Colômbia e Venezuela. Os presidentes Gustavo Petro e Nicolás Maduro (Venezuela) já concordaram com a convocatória de uma cúpula sul-americana entre todos os países que possuem partes da Floresta Amazônica em seus territórios. 

"Falamos sobre o assunto antes, mas agora com a posse esperamos fazer uma política multilateral com os dois estados, incluindo a Venezuela, e certamente se uniriam Bolívia e Peru, no esforço comum de resgatar a Floresta Amazônica", disse Petro a meios locais colombianos. 

Venezuela 

A grande novidade é a possível presença do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Na última quinta-feira (29), com autorização de Jair Bolsonaro, o governo revogou a portaria de 2019, que impedia a entrada de Maduro ao Brasil. No entanto, a embaixada ainda não confirmou se o chefe de Estado estará na cerimônia. 

Com os venezuelanos, além da questão ambiental e a proteção da Amazônia, também há interesse na questão energética. 

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A Venezuela possui a maior reserva certificada de petróleo do mundo, cerca de 303 bilhões de barris. O óleo é do tipo pesado, similar ao encontrado no pré-sal brasileiro, o que poderia ser favorável para fomentar o intercâmbio tecnológico para extração e desenvolvimento da indústria petroquímica.

Além disso, as hidroelétricas do sul do território venezuelano forneciam cerca de 80% da energia elétrica consumida no estado de Roraima. Com a gestão de Bolsonaro essa relação foi interrompida e agora o estado depende de termoelétricas para o fornecimento de energia. Aproximadamente 1 milhão de litros de óleo diesel são gastos por dia para manter o fornecimento no estado, o que representou um aumento de cerca de 200% na conta de luz.

Edição: Glauco Faria