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EUA aceitam fim da "presidência" de Guaidó na Venezuela, mas seguem sem reconhecer Maduro

Departamento de Estado anunciou que respeita decisão da direita de encerrar "governo interino", mas seguirá com sanções

Caracas (Venezuela) |
Governo de Joe Biden fez alguns acenos a Maduro nos últimos meses - White House

Os Estados Unidos afirmaram que irão respeitar a decisão da direita da Venezuela de encerrar a chamada "presidência interina" de Juan Guaidó, mas garantiram que isso não implicará no reconhecimento do presidente Nicolás Maduro.

Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (3), o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, classificou Guaidó como "membro da Assembleia Nacional de 2015" e disse que respeitaria as decisões que o órgão tomou.

"Guaidó continua sendo um membro da Assembleia Nacional de 2015, a qual nós reconhecemos porque é a última instituição eleita democraticamente no país. Nós seguiremos coordenando com ele como membro da Assembleia Nacional de 2015, assim como com outros atores democráticos na Venezuela", disse.

::O que está acontecendo na Venezuela::

Após duas votações realizadas no final de dezembro, os 104 ex-deputados que se reúnem na Assembleia Nacional paralela da Venezuela decidiram eliminar o cargo fictício de Guaidó, ação que significou uma mudança radical na estratégia política desse setor da oposição venezuelana.

Ao reconhecer as mudanças, os EUA encerram quatro anos de apoio irrestrito dado ao "interinato" de Guaidó, que começou em 2019 quando o republicano Donald Trump era presidente. Desde então, Washington deixou de reconhecer o presidente Nicolás Maduro e passou a considerar somente as autoridades ligadas à oposição como legítimas, ato que foi acompanhado por diversos países europeus e sul-americanos.

Isso permitiu que empresas e fundos do Estado venezuelano que estão bloqueados no exterior passassem às mãos do grupo político comandado por Guaidó. A rede de refinarias Citgo e as reservas de ouro no Banco da Inglaterra são alguns dos ativos que seguem controlados pela oposição.

::Venezuelanos vão às ruas para exigir liberação de bens estatais bloqueados no exterior::

Sobre o futuro desses bens, Price afirmou nesta terça-feira que "os membros da Assembleia Nacional estão discutindo entre eles como eles irão lidar com os ativos no exterior, [e os EUA irão] continuar discutindo esse tema com eles".

A posição dos EUA sobre os próximos passos da oposição é fundamental para determinar o futuro dos ativos venezuelanos no exterior, já que o estabelecimento oficial de canais com o governo Maduro poderia abrir espaço para a devolução dos bens ao Estado.

No entanto, Price assegurou que, apesar do fim do "mandato" de Guaidó, os EUA seguirão classificando Maduro como "ilegítimo" e continuarão aplicando o "programa de sanções contra a Venezuela".

Em 2022, EUA e Venezuela viveram uma desescalada nas tensões pela primeira vez desde o rompimento em 2019. O governo do presidente Joe Biden chegou a enviar em duas ocasiões uma delegação especial para dialogar diretamente com o governo Maduro. A emergência no abastecimento energético gerada pela guerra entre Rússia e Ucrânia acelerou a disposição do Ocidente em reconsiderar a posição diplomática a respeito da Venezuela.

Em novembro, as delegações do governo e da oposição reinstalaram a mesa de negociações no México e assinaram um acordo que previa a liberação de cerca de US$ 3 bilhões de fundos que estão bloqueados no exterior.

::Menos sanções, mais petróleo: o que significa o retorno da Chevron à Venezuela::

O retorno à mesa de diálogo foi celebrado pela diplomacia estadunidense que insiste em colocar os avanços alcançados no México como requisito para suspender sanções. Ainda em novembro, a gigante do setor energético Chevron foi autorizada pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês) a voltar a extrair e comercializar petróleo venezuelano.

Os bons sinais entre Washington em Caracas foram celebrados por Maduro em entrevista ao jornalista Ignacio Ramonet, publicada no último domingo (1). O presidente chegou a dizer que o país "está totalmente preparado para dar um passo em direção a um processo de normalização de relações diplomáticas, consulares, políticas com esse governo dos Estados Unidos e com outros governos".

Edição: Thales Schmidt