Eleições 2024

Candidatura de Salles em SP reforçaria disputa entre extrema direita e direita tradicional

Cientistas políticos analisam a corrida eleitoral em SP, com Datena no PSB e o flerte do PT com Marta Suplicy

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ricardo Salles é conhecido por sua gestão desastrosa à frente do Ministério do Meio Ambiente - Reprodução/Instagram

Nas últimas semanas, o nome do deputado federal Ricardo Salles (PL) ganhou força, dentro do Partido Liberal, para a disputa da Prefeitura de São Paulo em 2024. Internamente, o parlamentar tem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL).

Para a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “a possível indicação do Salles vem reforçar a perspectiva de que a direita tradicional não está conseguindo disputar internamente a hegemonia no campo. Então, vemos uma ascendência da extrema direita sobre a direita tradicional”

DISPUTA ACIRRADA NA CAPITAL PAULISTA

A corrida eleitoral no município terá, ainda, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP).

O PL vive um impasse sobre o apoio a Nunes. O mandatário paulistano nunca se filiou às fileiras bolsonaristas, mas sempre flertou com o ex-presidente da República. Porém, com a ascensão de Salles, o prefeito correu à imprensa, na última quarta-feira (20), e declarou que “o apoio de Bolsonaro é fundamental.”

Em São Paulo, Nunes vive uma relação instável com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), uma das principais vozes do bolsonarismo no estado. O imbróglio envolve a Tarifa Zero no transporte e o aumento da passagem de trens da CPTM e do Metrô.

Nunes contava com o apoio de Freitas para implementar a gratuidade no transporte público em São Paulo, medida eleitoreira que o prefeito considera fundamental para 2024. Porém, na véspera do anúncio do programa, o governador pulou do barco e disse que a integração da tarifa zero entre ônibus, trens da CPTM e Metrô seria inviável.

Dias depois, Freitas foi surpreendido quando anunciou o aumento da passagem nos trens e Metrô de R$ 4,40 para R$ 5. Nunes surpreendeu o governador e divulgou que a Prefeitura manteria o valor de R$ 4,40 congelado, sem reajuste, para os ônibus. O ônus da decisão impopular ficou para o Palácio dos Bandeirantes.

No meio do imbróglio, Salles costura internamente sua candidatura. Porém, o ex-ministro do Meio Ambiente precisa vencer a resistência do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que prefere lançar o senador Marcos Pontes (PL) na corrida eleitoral pela Prefeitura de São Paulo.

Ainda de acordo com Goulart, “a presença do Salles reduz a complexidade para o eleitor na hora de tomar sua decisão e isso mostra uma certa simplificação do campo político a partir da polarização.”

O cientista político Rudá Ricci considera que Salles seja “carta fora do baralho”. “O eleitorado paulistano é muito mais progressista do que o paulista, o Salles seria um negócio ruim, ele dividiria o eleitorado com o Nunes e não prejudicaria em nada o Boulos. O Boulos tem um eleitorado que vem do PT, o eleitorado mais conservador do Boulos é do PT”, analisa.

A novidade mais palpável para a eleição de 2024 em São Paulo é filiação do jornalista José Luis Datena, apresentador de programas policiais sensacionalistas, ao PSB. A expectativa é que ele apareça como vice na chapa encabeçada por Tábata Amaral.

Todas as pesquisas eleitorais divulgadas até o momento colocam Guilherme Boulos à frente na corrida pela Prefeitura de São Paulo. Nos bastidores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem trabalhado para que Marta Suplicy (sem partido), ex-prefeita de São Paulo pelo PT, retorne ao partido e complete a chapa encabeçada pelo deputado federal do PSOL.

Hoje, Suplicy é secretária de Relações de Assuntos Internacionais da administração de Ricardo Nunes (MDB). Recentemente, o prefeito afirmou que “confia” que a ex-prefeita não debandaria para o lado de Boulos.

Dentro do PT há resistência ao retorno de Marta Suplicy, que foi aderiu e defendeu o golpe que destitui Dilma Rousseff da presidência da República, em 2016. Na época, como deputada federal, a ex-prefeita votou à favor do impeachment.

“A cidade de São Paulo é mais conservadora no norte e oeste. No Sul e leste são mais à esquerda. Se a Marta Suplicy vem para esse jogo, a chance do Boulos é enorme. Não acho que a Tábata tenha chances, a polarização será Boulos e Nunes”, finaliza Ricci.

Goulart considera que, caso Ricardo Salles apareça na disputa em 2024, a polarização do bolsonarismo com o PT aparecerá, mesmo com Guilherme Boulos liderando a esquerda nas urnas e prejudicará a candidatura de Nunes.

“O Boulos aguça essa polarização, porque ele tem uma marcação ideológica inequivocamente de esquerda. O PT tem outros candidatos que não entrariam em discursos polarizantes”, encerrou a cientista política.

Edição: Rebeca Cavalcante