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Ambientalista da Índia questiona atual modelo de construção das cidades: 'Está matando a biodiversidade'

'A solução é devolver às pessoas os seus caminhos', diz ambientalista Tikender Panwar sobre crise climática ao BdF

Brasil de Fato | Joanesburgo (África do Sul) |
Em Mumbai, na Índia, trabalhadores atuam em construção de rodovia expressa ao longo da costa do Mar Arábico - Indranil Mukherjee / AFP

O uso de combustíveis fósseis e o cimento, ligado aos padrões de construção, são alguns dos principais fatores para a emissão de carbono a nível mundial. Repensar o modelo de construção das cidades poderia ser uma das soluções para frear os efeitos das mudanças climáticas, na avaliação do ambientalista indiano Tikender Singh Panwar. 

"A forma como construímos as nossas cidades, a forma como plantamos árvores, isso está matando a biodiversidade", descreve Panwar, em entrevista ao Brasil de Fato realizada em Joanesburgo, na África do Sul, no contexto do evento Conferência Dilemas da Humanidade.

Panwar atua como representante da Cidades para a Inclusão Transformadora de Yarrow, Zing e a Sustentabilidade Ambientalmente Equilibrada (Cityzens). 

Ele propõe soluções possíveis para frear a emissão de gases que não passam pela construção de mais viadutos, gasodutos ou a substituição de carros convencionais por carros elétricos.

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"A solução é devolver às pessoas os seus caminhos pedonais, às suas ciclovias, aos seus transportes públicos, essa é a essência, isso é a quintessência da nossa sobrevivência até pelo sentido de estratégia adaptativa e mitigadora".

Panwar contextualiza que 80% das população na Índia, os trabalhadores em deslocamento nas cidades, não percorrem mais de 6 a 7 quilômetros diariamente. "Então, se esse é o deslocamento médio é melhor ter viadutos ou caminhos de pedestres nas ciclovias?", questiona. 

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Sul global é mais vulnerável

A ruptura da forte interligação entre a biodiversidade e os seres humanos está afetando severamente o processo evolutivo, alerta o ambientalista e ex-vice prefeito da cidade de Shimla. Ele ainda vê com preocupação o fato que que os países do Sul global são os mais afetados pelas mudanças climáticas.

"Sabemos que as inundações vão acontecer. Sabemos que eventos climáticos extremos irão acontecer. Quero dizer, aconteça o que acontecer, como protegemos os trabalhadores, como protegemos as pessoas mais vulneráveis, as mulheres, a seção marginalizada, os idosos? Temos provavelmente 12% da população idosa no Sul global. O que você faz com isso? Então eu acho que é nisso que o foco tem que ser", argumenta.

Edição: Vivian Virissimo