Eleições

Datena chega ao 11º partido ao migrar para o PSDB; 'fluidez ideológica', diz cientista política

Para Mayra Goulart, apresentador 'carrega clamor punitivista' que pode dialogar com o bolsonarismo nas eleições

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Filiação do jornalista mostra um esgarçamento da identidade do partido tucano, acredita Goulart - Reprodução/Band

O jornalista José Luiz Datena se filiou ao PSDB na manhã desta quinta-feira (4). Este é o décimo primeiro partido ao qual o apresentador se filia desde 1992, sem nunca ter se candidato a um cargo público.  

Há rumores de que o agora ex-membro do PSB pode ocupar a vaga de vice na chapa de Tabata Amaral (PSB) à prefeitura de São Paulo nas eleições deste ano, selando uma união entre o antigo e o atual partidos. A pré-candidatura, no entanto, ainda não foi confirmada pela assessoria do PSDB. 

Antes do PSDB, Datena passou por PT (1992 - 2015), PP (2015 - 2017), PRP (2017 - 2018), DEM (2018 - 2020), MDB (2020 - 2021), PSL (2021 - 2022), União Brasil (2022), PSC (2022 - 2023), PDT (2023) e PSB (2023–2024). 

Em 1.º de abril de 2022, o último dia da janela partidária daquele ano, Datena se filiou ao Partido Social Cristão (PSC), visando concorrer ao Senado pelo estado de São Paulo. Três meses, o apresentador desistiu de disputar as eleições pela quarta vez. 

Para Mayra Goulart, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos Eleições e Política Comparada (LAPPCOM), a trajetória do Datena é "de fluidez ideológica". A docente defende que o apresentador representa uma figura que "não é alguém orgânico de um partido".  

Seu perfil acaba sendo preterido dentro dos partidos para candidaturas, especialmente àquelas a cargos majoritários. No entanto, Datena carrega um clamor punitivista próprio do bolsonarismo, o que pode ser útil eleitoralmente no pleito municipal deste ano. 

Por outro lado, "a filiação do Datena ao PSDB releva um certo esgarçamento da identidade do partido, uma vez que ele não tem essa identificação [com a sigla]". "Isso fica mais nítido quando a gente observa que o PSDB em São Paulo, na cidade, está vivendo uma debandada, corre o risco de ficar sem vereadores agora na janela partidária." 

"Isso demonstra que a direita tradicional deixa de ser um campo capaz de gerar engajamento, coesão, mobilização política. Ela perdeu esse lugar para a extrema direita, por isso que o PSDB se esvazia: parte da sua militância já está com o [Ricardo] Nunes [atual prefeito de São Paulo], já está mais próximo da extrema direita, porque é esse lugar que está gerando engajamento", afirma Goulart. 

Possível candidatura com Tabata Amaral 

A professora analisa, nesse sentido, que o Datena pode aportar a Tabata Amaral (PSB) uma proximidade com o campo bolsonarista que ela, sozinha, não é capaz sustentar, já que tem mais identificação com o campo progressista. 

"Não tanto pela trajetória política partidária dele, que é de fluidez ideológica, mas ele aporta um discurso punitivista de combate ao crime, que dialoga com esse universo bolsonarista. E aporta também pelo fato dele ser homem, uma vez que a misoginia é um elemento constitutivo do bolsonarismo enquanto o movimento social."

Um outro elemento que pesa numa possível chapa entre ambos é a presença do PSDB, "que resgata toda uma história, uma memória no estado e na cidade de São Paulo, uma vez que o partido tem uma ampla trajetória de diálogo com as elites e as camadas médias".  

Edição: Thalita Pires