O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou nesta terça-feira (29) que a tarifa de 50% imposta pelo governo Donald Trump a produtos brasileiros é uma medida “injustificável” e prejudicial também aos Estados Unidos. “É um perde-perde que também não é bom para os EUA”, declarou, durante entrevista coletiva no final do dia, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
A declaração ocorreu após uma série de reuniões com representantes de setores diretamente impactados pela medida. Pela manhã, Alckmin recebeu o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), representantes da Federação das Indústrias do Estado e de empresas exportadoras cearenses. O estado é, proporcionalmente, o que mais exporta para os Estados Unidos – 45% de suas vendas externas têm como destino o país norte-americano.
No encontro com o governador do Ceará, Alckmin destacou a vulnerabilidade do estado diante do tarifaço. “São 45% das exportações cearenses dirigidas aos Estados Unidos. Aço, pescado, camarão, caju, pás eólicas… um conjunto importante da pauta exportadora local”, detalhou.
Além do Ceará, o vice-presidente já havia se reunido com governadores de outros estados com forte presença no comércio exterior, como Espírito Santo e Maranhão. No caso do Rio de Janeiro, além do petróleo, produtos como aço também estão na lista dos que podem ser impactados.
Ao longo do dia, Alckmin também se reuniu com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e com representantes de empresas de tecnologia dos Estados Unidos. O encontro contou com participação de um representante do governo estadunidense por videoconferência, e reuniu executivos de companhias como Google, Meta, Amazon, Apple, Visa e Expedia.
O encontro com as chamadas big techs, que aconteceu pela segunda vez nas últimas semanas, também discutiu o tarifaço. As empresas de tecnologia haviam sido mencionadas por Donald Trump como parte das motivações para a sanção. De acordo com Alckmin, as empresas trouxeram uma pauta dividida em quatro eixos: ambiente regulatório, inovação tecnológica, oportunidade econômica e segurança jurídica.
“Foi uma boa reunião. Participaram também outros órgãos de governo, porque essa é uma pauta que envolve não só o Poder Executivo, mas também o Legislativo e o Judiciário”, afirmou. Uma mesa de trabalho permanente foi proposta para aprofundar os debates.
O governo norte-americano acompanhou o encontro por videoconferência. Segundo Alckmin, a participação se deu a pedido do secretário de Comércio, Howard Lutnick, com quem ele também vem mantendo diálogo direto.
Mutirão contra tarifaço
Segundo o vice-presidente, os encontros com os estados e com o setor produtivo integram uma articulação mais ampla para tentar barrar a entrada em vigor da tarifa, prevista para sexta-feira (1º).
“Estamos trabalhando para evitar que isso ocorra. A tarifa de 50% não tem nenhuma justificativa. Dos grandes países com os quais os EUA têm relações comerciais, o Brasil é um dos poucos com quem mantêm superávit. Ainda assim, de janeiro a junho, nossas exportações para os Estados Unidos cresceram 4,8%, e as deles para nós cresceram quase 12%”, destacou.
Durante a coletiva, Alckmin reforçou o caráter prejudicial da medida não apenas para o Brasil, mas também para o mercado estadunidense. “Você vai encarecer produtos, vai levar à inflação, o que é ruim. E também prejudicar as nossas rendas”, disse.
Ele reafirmou que o Brasil está buscando convergências e que não há razões econômicas ou políticas para a imposição da tarifa. “Nós queremos uma redução tarifária para todos. Não tem justificativa você ter uma alíquota de 50% para um país que é um grande comprador de você”, afirmou.
Apesar das articulações, Alckmin afirmou que o plano de contingência do governo federal será divulgado apenas se a tarifa entrar em vigor. “Só deve ser discutido se a questão dos 50% se consumar. Não vamos esmorecer. Vamos trabalhar permanentemente para evitar que isso ocorra”, garantiu.
“Lula não vai abanar o rabo”, diz Haddad sobre relação com os EUA
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou, também nesta terça-feira, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não irá adotar uma postura submissa diante da escalada protecionista promovida por Donald Trump. “Você não vai querer que o presidente Lula se comporte como o Bolsonaro abanando o rabo e falando ‘I love you’”, declarou, em entrevista exclusiva à CNN Brasil.
Haddad defendeu o uso de canais institucionais e diplomáticos nas tratativas e disse que o Brasil busca preservar a racionalidade no cenário internacional. “Estamos assistindo isso, no começo com certa perplexidade, mas nós estamos buscando os canais para trazer a racionalidade”, afirmou.
O ministro também afirmou que o protocolo diplomático é necessário para garantir segurança institucional. “Não vai acontecer com o presidente Lula o que aconteceu com Zelensky, que passou um papelão na Casa Branca”, afirmou, referindo-se ao presidente da Ucrânia.