O governo da Venezuela usou um relatório da ONU para questionar a operação dos Estados Unidos no Caribe, nesta segunda-feira (25). Segundo a Casa Branca, foram enviados três navios para “combater o tráfico de drogas” no sul do Caribe e Caracas seria um dos principais alvos. Mas, segundo a Organização, o país caribenho não é um risco na compra e venda de drogas na região.
O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 da ONU apresenta uma série de países que são usados para produção e comercialização no mercado internacional. Na América Latina, os países que aparecem com destaque são Peru, México, Colômbia e Bolívia, enquanto entre os países com alto consumo estão Brasil e Argentina. A Venezuela sequer é mencionada.
Em coletiva de imprensa, o ministro da Justiça venezuelano, Diosdado Cabello, disse que mais de 87% da droga que é produzida na América do Sul sai pelo Oceano Pacífico. Ele questionou a operação militar na região com a justificativa de “combate ao narcotráfico”.
“Se os Estados Unidos, se os países do mundo quisessem combater o narcotráfico, onde seria? Onde toda a força aérea naval seria mobilizada para combater o narcotráfico vindo da Colômbia? No Pacífico, de onde vêm 87% das drogas. Portanto, não há vontade real de combater o narcotráfico. Eles têm vontade de fazer outra coisa, mas não de combater o narcotráfico. Porque essas drogas vão para os Estados Unidos”, disse ao Brasil de Fato.
O relatório da ONU afirma que mais de 3.708 toneladas de cocaína foram produzidas em 2023 na América Latina graças a um aumento da produção de coca justamente na Colômbia. Enquanto isso, a produção na Bolívia se estabilizou e os plantios no Peru diminuíram. A Venezuela não foi mencionada como produtor de coca ou maconha.
O documento também afirma que a média anual de fluxo financeiro pelo mercado de drogas ficou entre US$ 1,2 bilhão (R$ 6,5 bilhões) e US$ 2,6 bilhões (R$ 14 bilhões) na Colômbia.
Ainda de acordo com o relatório, somente 5% da droga produzida na Colômbia tenta sair pela Venezuela. Cabello reforçou que o documento indica uma tentativa, já que as forças de segurança venezuelanas “são responsáveis por grandes apreensões”.
“Só neste ano, segundo esses números, 106 toneladas representam esses 5%. Até o final de agosto, já apreendemos 52.769 quilos de drogas, ou seja, 52,7 toneladas de drogas, quase metade do que teoricamente deveria ser liberado aqui, segundo dados da ONU”, afirmou o ministro.
De acordo com o governo venezuelano, somente no último mês foram realizadas operações para desmontar grupos criminosos que tentam atuar com drogas na Venezuela. Ao todo, foram mobilizados 10.380 efetivos de segurança que destruíram 10 acampamentos ilegais, 5 laboratórios, 28 estruturas logísticas e 6 estaleiros.
Além disso, foram apreendidos 153 mil quilos de precursores de drogas, 400 aeronaves, artefatos explosivos e armas. Ao todo, 6.284 pessoas foram presas
A tensão aumentou na região na semana passada, depois que os EUA subiram o tom contra o governo de Nicolás Maduro. A porta-voz do governo de Donald Trump, Karoline Leavitt, afirmou que os Estados Unidos usariam “toda a força” contra a Venezuela. Antes, o Departamento de Estado havia aumentado a recompensa pela prisão de Nicolás Maduro para US$ 50 milhões e, sem apresentar provas, reiterou que o mandatário venezuelano seria chefe do Cartel dos Sóis, uma suposta organização criminosa, sobre a qual não há informações oficiais.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, saiu mais uma vez em defesa da Venezuela, nesta segunda-feira, e disse que o Cartel dos Sóis não existe e é uma “desculpa fictícia da extrema direita para derrubar governos que não obedecem”.
“Propus aos EUA e à Venezuela que destruíssemos esse cartel juntos. Trata-se de coordenação, não de submissão”, disse Petro.
Cooperação com vizinho
O ministro venezuelano anunciou durante a coletiva que foram mobilizados 15 mil militares para a zona da fronteira durante a instalação da fase 1 da Zona Econômica Especial de Paz. O projeto binacional envolve três estados, sendo dois na Venezuela e um na Colômbia. A ideia é que haja uma integração na atuação das Forças Armadas dos dois países na região para combater crimes cometidos na fronteira.
O acordo entre Bogotá e Caracas para a criação dessa zona foi assinado em 17 de julho e envolve também o investimento em áreas estratégicas. Energia, indústria, turismo e transporte são os setores prioritários para isso.
Do lado da nação caribenha, a zona vai incluir os estados de Táchira e Zulia. Já do lado da nação irmã, será o Norte de Santander. A ideia é também ter uma cooperação energética para melhorar a rede de eletricidade, distribuição de gás e petróleo.
“Nosso presidente deu instruções para ativar imediatamente a Zona de Paz Número 1, que inclui os estados de Táchira e Zulia. E o presidente ordenou um grande reforço operacional do que já existe lá, porque estamos operando há bastante tempo, mobilizados com a URRA (Unidades de Reação Rápida de Combate) e com operações militares e policiais específicas”, afirmou o ministro.