O Banco de Brasília, maior instituição financeira pública do Distrito Federal, transformou-se nos últimos anos em palco das aventuras políticas e pessoais do governador Ibaneis Rocha. O que deveria ser um instrumento de desenvolvimento regional e de apoio à economia local vem sendo conduzido como extensão dos interesses particulares do chefe do Executivo. A cada movimento, o banco se distancia de sua missão pública e se aproxima da lógica do “patrimônio pessoal” do governador.
Durante o primeiro mandato, Ibaneis chamou a atenção nacional ao determinar que o BRB patrocinasse o Flamengo, justamente o clube de coração do governador. Em vez de consolidar o banco como referência no apoio ao esporte local ou em políticas que aproximassem a população do Distrito Federal, a aposta foi em um time carioca de alcance nacional, levantando suspeitas quanto ao real interesse público da medida.
Outro caso emblemático foi a utilização do BRB para tentar resolver problemas que não caberiam ao banco enfrentar. O estádio Mané Garrincha, símbolo máximo do gasto descontrolado em Brasília, continuava um “elefante branco” após a Copa de 2014. Coube ao banco se associar a um consórcio para administrar e sustentar a estrutura, assumindo uma despesa que pouco dialoga com sua função original de fomentar crédito e investimentos produtivos.
Mas os exemplos não param por aí. Paralelamente ao uso político da instituição, Ibaneis não deixou de se comportar como um cliente comum — um detalhe incômodo, já que o próprio governador é o controlador do banco. Conseguiu financiar um apartamento num dos hotéis mais luxuosos de São Paulo e arrematou uma fazenda em leilão do BRB por um preço muito abaixo do mercado. Não há até agora provas de ilegalidade, mas trata-se de postura flagrantemente imprudente, que mistura o público e o privado de maneira perigosa.
A situação atingiu novo patamar quando Ibaneis decidiu utilizar o BRB para se aventurar na aquisição de um banco em processo de falência.
Com pressa e pressão, mobilizou a sua base na Câmara Legislativa para aprovar a medida em tempo recorde, transformando deputados em meros carimbadores dos projetos do governador. O caso tornou-se mais grave quando esse banco, o Master, foi envolvido em operações da Polícia Federal que investigavam o elo entre o sistema financeiro e a lavagem de dinheiro para o PCC, a maior organização criminosa do país.
Diante do risco, o Banco Central interveio e barrou a aquisição, afirmando que a operação poderia comprometer não apenas a estabilidade do BRB, mas o sistema financeiro nacional como um todo. Foi uma reprimenda pública e severa — um alerta de que os limites institucionais precisam prevalecer sobre os caprichos políticos.
O episódio expõe um padrão: Ibaneis trata o BRB como se fosse seu, quando na verdade é patrimônio do povo do Distrito Federal.
Reforçar esse limite é tarefa urgente das instituições de fiscalização, da sociedade e da própria comunidade política local. A submissão da CLDF e a passividade da maioria das lideranças do DF apenas ampliam o risco de vermos a principal instituição financeira da capital se tornar um brinquedo nas mãos do governador.
É hora de dizer basta. Ibaneis não é dono de Brasília, não é dono do BRB. O banco pertence aos cidadãos do Distrito Federal e precisa ser gerenciado com responsabilidade, sob o risco de, em nome de projetos pessoais e improvisos, comprometer-se não apenas o futuro da instituição, mas a confiança pública em todo o sistema político e financeiro da capital.
*Gabriel Santos Elias é cientista político e Secretário da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Legislação Participativa da CLDF.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato – DF.