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POVOS TRADICIONAIS

Quilombolas de São José do Norte (RS) lançam protocolo para garantir direito de consulta

Documento busca assegurar direito a veto pela comunidade diante de megaprojetos como mineração e parques eólicos

11.set.2025 às 15h22
Porto Alegre (RS)
Fabiana Reinholz
Quilombolas de São José do Norte (RS) lançam protocolo para garantir direito de consulta

O quilombo Vila Nova é formado por 29 famílias, que vivem da pecuária familiar e da produção de arroz, cebola e outros alimentos - Foto: Billy Valdez

Lideranças da comunidade quilombola Vila Nova, de São José do Norte (RS), estiveram em Porto Alegre nesta quarta-feira (10) para o lançamento do “Protocolo de Consulta Livre, Prévia e Informada”, na Sala Redenção da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). O documento, elaborado de forma coletiva, é o terceiro protocolo de uma comunidade quilombola no Rio Grande do Sul e foi apresentado em versão impressa e audiovisual, reforçando a oralidade como valor civilizatório das comunidades tradicionais. A exibição integrou o ciclo Cineciência: Raízes Vivas e Horizontes Ancestrais: A Terra é o Coração do Corpo?.

O quilombo Vila Nova é formado por 29 famílias, que vivem da pecuária familiar e da produção de arroz, cebola e outros alimentos, em processo de transição para a agroecologia. O território, banhado pela Lagoa dos Patos e pelo Oceano Atlântico (litoral médio), vem sendo pressionado por megaprojetos de mineração de titânio, como o Projeto Retiro, que pretende extrair ilmenita e rutilo na região, além de empreendimentos eólicos e monoculturas, como o Parque Eólico Bojuru.

Resposta à ameaça de um paraíso

“São José do Norte é um paraíso, mas hoje está ameaçado”, disse Geliandro Lucas Pinheiro, morador do território. “São empreendimentos que nos cercam, ameaçam a nossa água e querem destruir esse paraíso onde vivemos há gerações, que nos dá frutos, sustento e dignidade. O que está em jogo é o futuro”, alertou.

O protocolo busca garantir que a comunidade seja ouvida e tenha seu consentimento respeitado, conforme estipula a convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) diante de grandes empreendimentos que afetam seu território. Como o Projeto Retiro, voltado à mineração de titânio, e outros projetos de geração de energia e monoculturas.

Liderança local, Flávio Machado reforçou que o protocolo é uma resposta direta a essa conjuntura. “Mesmo com um tratado internacional que diz que a gente precisa ser ouvido, isso geralmente não acontece. Não chegamos ontem neste território, estamos aqui há gerações, produzindo e preservando. Esse protocolo é uma ferramenta de defesa para garantir o nosso direito de ser ouvidos. Querem impor o discurso do progresso, mas nossa opção é permanecer, continuar produzindo alimentos de forma sustentável. Isso precisa ser respeitado.”

Segundo ele, a comunidade participou ativamente, colocando suas necessidades. “Esse protocolo não é só nosso. É de todas as comunidades quilombolas que enfrentam ameaças. Estamos juntos nessa luta, porque sem luta não se conquista nada”, pontuou.

Quilombo esta localizado na na região da Planície Costeira do Rio Grande do Sul – Foto: Billy Valdez

Palavra que se escreve e se fala

O processo de elaboração foi construído de forma participativa, em oficinas realizadas no território, com apoio do Núcleo de Estudos de Geografia e Ambiente (Nega/Ufrgs), do Coletivo Catarse, do Fundo Casa Socioambiental e do Fundo Brasil. O protocolo foi produzido em versão textual e audiovisual, para garantir maior acessibilidade e difusão. A decisão está enraizada na tradição quilombola.

“O que assistimos não foi um documentário, foi o protocolo de consulta. A oralidade é um princípio das civilizações africanas, e o audiovisual respeita esse valor. É devolver à comunidade o documento no seu formato, de forma que todos possam compreender e se reconhecer”, explicou o jornalista Bruno Pedrotti , do Coletivo Catarse, responsável pela produção audiovisual.

Para a liderança da comunidade Vanuza Machado, o registro audiovisual reforça a memória e projeta novas possibilidades. “Por muito tempo o Estado nos negou até o direito à educação. Hoje nossos filhos estão dentro da universidade e isso mostra que somos capazes de ocupar todos os espaços. O filme é também uma forma de dizer: nós estamos aqui, temos história, temos futuro.”

Ela complementou, reforçando a importância da educação: “Tudo começa pela educação. Nossos filhos estudam, mas nunca devem esquecer de onde vieram. Somos agricultores filhos de quilombo e precisamos manter nossas raízes”.

A mestre em geografia Giulia Sichelero destacou o caráter audiovisual do protocolo, que vai além do papel para garantir que a comunidade se reconheça no documento e que seus direitos previstos pela Convenção 169 da OIT tenham aplicabilidade local. “São José do Norte é rico em biodiversidade, minerais e cultura. O protocolo traz a voz da comunidade, garantindo que tenham o direito de consentir frente aos empreendimentos.”

Modos de vida e bem viver em risco

A bióloga Júlia Ilha destacou que há pelo menos 16 empreendimentos eólicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) previstos a menos de 8 km de comunidades quilombolas, muitas delas sem sequer saber da existência desses projetos.

Segundo ela, por estarem distantes da Capital e fora do alcance da visibilidade pública, essas comunidades ficam ainda mais vulneráveis, já que não contam com relatórios técnicos de identificação e delimitação (RTID) e nem com canais eficazes de denúncia. “Se quase nenhuma comunidade quilombola tem RTID, não faz sentido isso ser uma exigência para o processo de consulta. As comunidades correm o risco de perder seus modos de vida e o bem viver”, afirmou.

Ela também criticou o processo de licenciamento, citando o caso da mineração em São José do Norte. Em novembro de 2024, uma reunião pública reuniu pescadores, agricultores, quilombolas e moradores locais, que se manifestaram integralmente contra o projeto. “Nada foi levado em conta e logo depois saiu a licença de instalação”, disse.

Segundo a bióloga, o licenciamento tem se tornado um rito protocolar, sem garantir a participação popular. “É preciso repensar esse modelo, porque as comunidades correm o risco de perder seus modos de vida e o bem viver”, concluiu.

Segundo os quilombolas, os licenciamentos ambientais dos projetos previstos para a região apresentam falhas graves, ao ignorar o modo de vida da comunidade – Foto: Billy Valdez

Críticas ao licenciamento

Segundo os quilombolas, os licenciamentos ambientais dos projetos previstos para a região apresentam falhas graves, ao ignorar o modo de vida da comunidade e os impactos sobre a pesca, a agricultura e o acesso à lagoa e ao mar.

“Estamos preocupados que a qualidade da água da Lagoa dos Patos e do Oceano Atlântico, que abastece nosso território, seja comprometida. A terra para nós agricultores tem um significado profundo: é a base da nossa sobrevivência, da produção de alimentos e do sustento da nossa comunidade”, comentou Pinheiro. Para o morador, as comunidades estão diante de dois caminhos: destruição ou preservação. “Precisamos continuar preservando para garantir um futuro melhor”, defendeu.

Apoio institucional e titulação pendente

O lançamento contou com representantes do Ministério Público Federal (MPF) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ambos destacaram a importância do protocolo e reconheceram a urgência da titulação das terras quilombolas. O representante do Incra, Sebastião Henrique Santos Lima, destacou a força da mobilização e reconheceu a dívida histórica com o processo de regularização fundiária.

Ele lembrou que este é o terceiro protocolo do tipo no estado, após os do Quilombo do Morro Alto e Morada da Paz, e ressaltou a importância do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) para assegurar os territórios quilombolas frente a empreendimentos de mineração, energia e monocultivos. “Já são quase 20 anos de espera. Descontando os últimos dois governos, que não avançaram, são 13 anos de atraso. Nosso compromisso é concluir rapidamente o relatório técnico e garantir que ninguém coloque mão, pé ou árvore dentro do território da Vila Nova sem o consentimento da comunidade”, afirmou.

O dirigente enfatizou ainda que o papel do Incra não é negociar com empreendedores, mas atuar junto aos órgãos licenciadores. Também citou o apoio do Ministério Público Federal e destacou que cabe a órgãos como Ibama e Fepam considerar os impactos sobre quilombolas nos processos de licenciamento.

“Esse trabalho é fundamental. Ele conjuga a emoção e o acúmulo técnico. Se o empreendimento ameaça a continuidade digna da comunidade em seu território, pode-se exigir o consentimento, o poder de veto”, destacou o procurador do MPF, Pedro Nicolau. Segundo ele mesmo sem o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação concluído, a comunidade tem direito à consulta prévia. “Caso não seja respeitado, vamos acionar a Justiça Federal. O protocolo é um instrumento legítimo, que fortalece a posição da comunidade diante do Estado e das empresas”, afirmou.

Quilombolas afirmam que megaprojetos ameaçam modos de vida tradicionais – Foto: Billy Valdez

Incra aponta avanços lentos na titulação de quilombos no RS

Ao Brasil de Fato RS, Sebastião Henrique Santos Lima informou que atualmente o RS conta com 160 comunidades quilombolas, das quais 136 já estão certificadas pela Fundação Cultural Palmares e 116 possuem processos abertos no Incra.

Apesar de alguns avanços, o número de territórios titulados ainda é baixo. Segundo o representante do Incra, já foram publicados mais de 20 Relatórios Técnicos de Delimitação (RTD), 14 portarias de reconhecimento e apenas quatro títulos de propriedade. “Isso está muito aquém da demanda”, admite.

Atualmente, o órgão trabalha na finalização de cinco novos relatórios técnicos e na conclusão de outros seis já iniciados. Mas Lima reconhece que os prazos da instituição não acompanham a urgência das comunidades. “A emergência não pode esperar o ritmo do Incra. O relógio do Incra não está batendo com a necessidade das comunidades”, afirmou, citando como exemplo a situação da comunidade quilombola Vila Nova, em São José do Norte, que teve seu processo acelerado em razão dos impactos de grandes empreendimentos.

O procedimento, ele explica, envolve a execução do relatório técnico, a publicação da portaria de reconhecimento e, em caso de áreas privadas, o decreto de desapropriação seguido da titulação. “Podemos também adotar medidas provisórias, como o reconhecimento da posse, antes mesmo do título definitivo, para garantir que não haja nenhum tipo de ameaça sobre o território”, destacou.

Esse mecanismo já foi utilizado no Quilombo Familia Silva, em Porto Alegre, há cerca de 15 anos, e está sendo discutido no caso do Quilombo Kedi, também na Capital. Como a área pertence ao município, o Incra não pode titular diretamente. “O que podemos fazer é reconhecer a posse, enquanto a prefeitura terá de aprovar uma lei na Câmara para transferir a área à comunidade”, explicou.

Segundo ele, há 41 cadastros da comunidade que querem ficar no local. “Nós vamos tentar garantir o maior território possível para eles”, assegurou.

Enquanto alguns territórios quilombolas sofrem com a especulação imobiliária, outros territórios enfrentam conflitos diretos com fazendeiros e impactos de empreendimentos. “Em São Gabriel, por exemplo, tocaram fogo na casa de uma quilombola. São situações em que o Incra precisa responder, mas infelizmente nem sempre consegue no tempo correto, e isso gera prejuízo às comunidades”, lamentou Lima.

Respeito à comunidade

Geliandro Lucas Pinheiro ressaltou a importância da terra para a sobrevivência das comunidades e para toda a sociedade. “É nela que colocamos a semente, que vira alimento, fruto, sustento. Esses alimentos chegam às feiras e mercados, produzidos com respeito ao meio ambiente, à natureza e à terra. Temos orgulho disso”, afirmou o morador.

Na mesma linha, Flávio Machado destacou a necessidade de respeito ao modo de vida quilombola. “Queremos continuar produzindo alimentos de qualidade, é nossa escolha. Mineração e parques solares não são para nós, mas para o capital internacional. Nossa vida, nosso trabalho e nossa saúde precisam ser respeitados”, disse a liderança.

Editado por: Marcelo Ferreira
Tags: direito à terraincrapovos tradicionaisrio grande do sul

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