Brincar é adentrar o universo dos sonhos, onde os brinquedos são como um convite para a imaginação de crianças e adultos.
No estado do Pará, os brinquedos de miriti são tradicionais. Feitos de forma artesanal, a confecção dos objetos envolve um conhecimento transmitido entre gerações.
“Eu gosto do brinquedo de miriti porque é muito colorido e legal", afirma Ana Vitória, de 4 anos, que é apaixonada pelo pigmento dos brinquedos.
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O avô de Ana Vitória, o artesão Dezidério Neto, conta que a inspiração do artista é justamente o que é visto ao seu redor. Logo, as cores vibrantes refletem a diversidade da fauna e flora da Floresta Amazônica que cobre todo o estado.
“O brinquedo sempre foi gerado no ver do artesão. O que ele vê, ele tenta reproduzir no miriti. Se ele vê um pássaro, um barco que passa na frente da cidade, uma canoa que passa também”, afirma.
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Dezidério mora em Abaetetuba, município localizado a 120 quilômetros da capital e referência nos brinquedos de miriti. Ele destaca também que o ofício de produzir as peças está se espalhando por outras cidades do interior paraense.
“A gente tem muito orgulho de chegar e dizer hoje para alguém: 'onde você mora?' 'Eu moro na capital mundial do brinquedo de Miriti! Que seria Abaetetuba'", relata.
Miriti
“Natural da jangada, do coqueiral. Do pescador, de cor azul!”
A música "Cores vivas", composta e interpretada por Gilberto Gil fala sobre o coqueiro, uma palmeira que é fonte de matéria prima de artesanatos. O miriti é a fibra do buritizeiro, a palmeira que dá um fruto chamado buriti.
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Valdeli Costa é um dos artesãos que mantém viva a tradição com o miriti.
“A gente utiliza o cabo da folha desta palmeira, que é a Mauritia flexuosa. Dependendo do terreno onde ela ocorre, o cabo da folha chega a medir até 5 metros de comprimento”, salienta.
Cortar miriti é trabalho duro. A árvore, que pode medir até 25 metros de altura, precisa ser manejada por trabalhadores especializados no corte que conhecem bem essa espécie.
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Além de caracterizarem um trabalho coletivo, Valdeli afirma que a confecção das peças é ecologicamente sustentável.
"O brinquedo é ecologicamente correto porque a gente não utiliza tinta tóxica. E a atividade é ecologicamente correta porque não derrubamos a palmeira, só coletamos o cabo das folhas e a palmeira continua crescendo”, destaca.
Festa do Círio
O registro de origem desses artefatos está perdido no tempo, mas alguns historiadores associam sua comercialização às feiras que acontecem desde o primeiro Círio de Nossa Senhora de Nazaré, ocorrido na capital Belém do Pará, no ano de 1793. Considerada a maior festa católica do Brasil, a procissão atrai milhões de fiéis para as ruas e as águas de Belém do Pará.
Procissão do Círio de Nazaré em Miriti / Leandro Tocantins
O Museu do Círio de Nazaré atua na valorização dos brinquedos e dos seus instrumentos e técnicas tradicionais, que dispõem de longa história. A instituição possui um inventário de 740 peças de brinquedos.
O antropólogo e diretor do Museu do Círio, Anselmo do Amaral Paes, ressalta a importância dos artesanatos para a comemoração:
“Nós podemos dizer que não há círio de Nazaré sem a potência, sem a presença dos brinquedos de miriti. Eles fazem parte exatamente da paisagem devocional que surge durante a quinzena nazarena, mas principalmente, durante a procissão do Círio de Nazaré.