ELEIÇÕES

Barroso diz que ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral revelam "limitações cognitivas"

Ministro do STF refuta fala do presidente sobre supostas vulnerabilidades encontradas pelas Forças Armadas nas urnas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Magistrado respondeu a novas declarações do chefe do Executivo sobre urnas; na foto, Barroso visita Bolsonaro no Palácio do Planalto - Marcos Corrêa/PR

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Feral, disse que os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral brasileiro revelam "limitações cognitivas e baixa civilidade". A declaração foi feita em entrevista ao jornal O Globo publicada neste domingo (13).

O magistrado respondeu a novas insinuações do presidente sobre a confiabilidade no sistema eleitoral brasileiro. Na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o dia 22 de fevereiro, Barroso disse que a Corte vai garantir "eleições livres, limpas e seguras” e que a postura de Bolsonaro é “uma retórica repetida” e “um discurso vazio”.

"Comício do presidente na porta do quartel-general do Exército, tanques na Praça dos Três Poderes, a minguada manifestação do 7 de setembro com discursos golpistas de desrespeito a decisões judiciais e ataques a ministros. Tudo isso eu acho que mais revela limitações cognitivas e baixa civilidade do que propriamente um risco real", disse o ministro do STF

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Barroso afirmou também que a declaração do presidente sobre supostas vulnerabilidades encontradas pelas Forças Armadas nas urnas é falsa. Segundo o ministro, um representante dos militares no processo eleitoral fez questionamentos que serão respondidos pelo TSE na semana que vem.

"O que há de minimamente verdadeiro: há um representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência das Eleições. Em dezembro, ele apresentou uma série de perguntas para entender como funciona o sistema. Elas entraram às vésperas do recesso. Em janeiro, boa parte da área técnica do TSE faz uma pausa, e agora as informações solicitadas estão sendo prestadas e vão ser entregues na semana que vem. Só tem perguntas. Não há nenhum comentário. Não falam de vulnerabilidade", disse.

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"Quando o presidente diz que encontraram vulnerabilidades antes mesmo de receber as respostas às indagações, ele está adiantando, desavisadamente, a estratégia que ele pretende adotar. Para falar a verdade, ele queimou a largada. Ele lança mão dos questionamentos feitos pelo representante das Forças Armadas, quando, na verdade, tudo o que foi feito foram algumas perguntas e, antes de ter recebido as respostas, já disse que tem vulnerabilidades", declarou Barroso.

"Ele [Bolsonaro] antecipou a estratégia dele, que é: não importa quais sejam as respostas, eu vou dizer que o sistema eleitoral eletrônico tem vulnerabilidades. Ele não precisa de fatos, a mentira já está pronta", declarou o magistrado.

Presidente testa limites

Durante a semana, o Brasil de Fato mostrou que as novas investidas autoritárias de Bolsonaro contra o Poder Judiciário no início do calendário político indicam que 2022 tende a ser um ano de continuidade da crise institucional — por ele instaurada e permanentemente estimulada.

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Os diferentes fatos que se sucederam recentemente ajudam a embasar a projeção. Teve grande saliência também, por exemplo, a recusa do ex-capitão em depor à Polícia Federal (PF), no último dia 28, no inquérito que apura o vazamento de documentos sigilosos de outra investigação, esta relacionada a um ataque hacker ao TSE.

Para especialistas ouvidos pela reportagem, o ano exigirá uma atuação mais firme por parte dos personagens que estão na órbita dos ataques do ex-capitão, especialmente por conta da proximidade com o período eleitoral. Independentemente de como o Judiciário traçará sua rota até lá, a atual fase da crise institucional e seus próximos capítulos podem assumir uma relevância histórica.   

“Este é um ano de teste muito forte sobre qual vai ser a redefinição de papel de poder que o Judiciário vai prestar, se ele vai conseguir segurar o próprio funcionamento institucional das eleições pra fazer essa transição de poder e se ele vai chegar inteiro ao outro lado”, aponta a pesquisadora e advogada Élida Lauris, integrante da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

Para o advogado Luciano Santos, especialista em direito eleitoral e um dos integrantes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) não forem muito “contundentes” diante da situação, “isso pode levar a um rompimento dos limites de acordo com o resultado das eleições”.

Edição: José Eduardo Bernardes