NÃO É A PRIMEIRA VEZ

Caso Cristina: veja outros atentados contra presidentes de esquerda da América Latina

Líderes do Brasil, Bolívia, Colômbia e Venezuela foram alvos nos últimos quatro anos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Lula da Silva, Nicolás Maduro, Gustavo Petro e Luis Arce também foram vítimas de violência política - Ricardo Stuckert / Presidência Bolívia / AFP

A violência política se repete. A tentativa de assassinato da vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, na noite de quinta-feira (1º) é o mais novo incidente da trajetória recente de atentados contra presidentes e lideranças progressistas latino-americanas. 

Nos últimos quatro anos, o aprofundamento da polarização política foi uma realidade em vários países da região. A ascensão de personagens de extrema direita, contrapondo discursos de esquerda, muitas vezes extrapola o debate de ideias e se manifesta em agressão. Em um continente atravessado pela herança do colonialismo e de diferentes variedades de golpismo, relembre alguns episódios em que a mira apontou para a esquerda.

Colômbia

No dia 24 de agosto, a comitiva presidencial de Gustavo Petro sofreu um atentado armado, atingindo dois veículos oficiais. Petro se deslocava pela via que conecta Bucaramanga, capital do estado Santander, até a região El Tarra, Norte de Santander, na fronteira com a Venezuela. Apesar dos ataques, ninguém saiu ferido. 

Já durante a campanha, tanto Petro como Francia Marquez, sua vive na chapa, sofreram ameaças de morte de grupos paramilitares, tiveram que cancelar atividades na região do Pacífico colombiano e realizar comícios com proteção e colete a prova de balas.


Em mais de uma ocasião durante a campanha eleitoral, Petro e Francia tiveram de ser protegidos por escudos por estar na mira de lasers, identificados como possíveis miras de armas de fogo / Yuri Cortez / AFP

Bolívia

Em novembro de 2020, apenas um mês após assumir a presidência, Luis Arce sofreu uma tentativa de atentado, enquanto se reunia com correligionários, em La Paz, capital boliviana.

Segundo Sebastian Michel, porta-voz do partido, uma caixa com dinamite foi deixada em frente à casa de campanha da sigla. "Há alguns minutos fomos vítimas de um ataque de um grupo que deixou uma caixa de dinamite na casa de campanha onde nosso próprio presidente eleito, Luis Arce, estava se reunindo. Estamos muito preocupados com o que está acontecendo", disse o porta-voz, em entrevista à imprensa.

O Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), encabeçado por Arce, ex-ministro de Economia de Morales, naquela ocasião voltava ao poder depois de ganhar as eleições gerais de outubro de 2020 e derrotar nas urnas o golpe de Estado. 

Em outubro de 2019, mesmo após vencer a sua quinta reeleição, o presidente Evo Morales foi forçado a renunciar pela pressão das Forças Armadas, da Polícia Nacional e setores da direita boliviana. Assim como Morales, seu vice, Álvaro García Linera, ministros e parlamentares do MAS-IPSP foram ameaçados de morte durante a gestão golpista de Jeanine Áñez. 

Morales e García Linera receberam asilo político no México e, mais tarde, na Argentina. Os militares bolivianos tentaram impedir que os ex-chefes de Estado embarcassem no avião oficial mexicano para deixar o país em outubro de 2019.

Já em 2021, o presidente Andrés Manuel López Obrador revelou no livro "A mitad del Camino", que a aeronave das Forças Armadas Mexicanas foi alvo de foguetes enquanto transportava os políticos bolivianos para o México.

"Durante a subida inicial, o piloto observou do lado esquerdo da cabine de pilotagem, e quando estava quase 1.500 pés acima do solo, uma trilha luminosa semelhante à característica de um foguete na posição das sete horas (atrás, à esquerda da trajetória da aeronave), abaixo do horizonte", afirma documento revelado por Obrador em seu livro.


Dois drones explodiram enquanto Maduro discursava em Caracas, no dia 04 de agosto de 2018 / Wikicommons

Venezuela

Em 2018, o presidente Nicolás Maduro sofreu um atentado com explosivos do tipo C4 disparados por um drone. O episódio ocorreu no dia 4 de agosto de 2018, no evento de aniversário da Guarda Nacional Bolivariana, na avenida Bolívar, no centro de Caracas.

Em agosto deste ano, a Justiça venezuelana condenou 17 pessoas pela participação na tentativa de assassinato contra o presidente Maduro. Entre os condenados estão três militares e um ex-deputado. As penas variam de 5 a 30 anos. 

Juan Carlos Requenses, ex-deputado que integrou a Assembleia Nacional eleita em 2015, foi condenado a oito anos de prisão pelo crime de "conspiração" por ter integrado, segundo a Justiça, o grupo que planejou o atentado

Brasil

Em julho deste ano, bombas caseiras explodiram próximo ao palco onde o ex-presidente Lula da Silva discursava no seu ato de pré-campanha na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro (RJ). 

Já em março de 2018, durante a pré-campanha, antes de Lula ser preso, dois ônibus da comitiva que viajava com o então pré-candidato pelo Paraná, no sul do país, foram alvejados a tiros. Os veículos sofreram uma espécie de emboscada e tiveram seus pneus furados por miguelitos, uma espécie de cruz formada por pregos entrelaçados, jogados na estrada para diminuir a velocidade e facilitar a emboscada.

Edição: Arturo Hartmann